Como criar hábitos saudáveis para a criança levar para a vida adulta

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Por Camila Cassia Capel

Todas as atividades requerem um período de preparo, realização e finalização, ou seja, evidenciam a passagem do tempo. E o tempo é fator preponderante para a aquisição de novas habilidades; seja o aprendizado de uma língua ou um instrumento, bem como assimilar um nova atitude até que esta seja incorporada como um hábito.

Os bons hábitos ajudam pois trazem equilíbrio, organização e orientação para a condução de nossas vidas. Também podemos perceber a força de um mau hábito e o quanto é difícil nos livrarmos dele. O temperamento do indivíduo influencia na maneira como os hábitos vão se instalando em sua vida e a frequência deles, passa a formar traços que moldam a sua personalidade.

Os ciclos do sol e da lua, as estações do ano, o dia e a noite, as festas relacionadas aos solstícios de verão e de inverno, esses eram os elementos com os quais o homem se relacionava com o tempo na antiguidade. Há uma sabedoria nessa relação e ela ainda reside no interior da  criança no primeiro setênio, pois ela ainda possui forte ligação com o cosmo.

Por sua tendência a viver em ritmos, como a natureza, podemos aproveitar esta fase infantil para instaurar bons hábitos que a criança levará por toda a vida. Os fundamentais são: o ritmo, alimentação, higiene, sono e vínculos afetivos calorosos

Quando falamos em ritmo, relacionamos à respiração, segundo Rudolf Steiner,  o principal aprendizado que deveríamos nos concentrar na educação de uma criança é respiração e sono; esses são hábitos que ela levará para a vida inteira e influenciará diretamente sua saúde. Ensinar uma criança a respirar relaciona-se à alternância da contração e expansão durante seu período da vigília. Isso se traduz em intercalar momentos em que a criança se volta para atividades mais introspectivas, como comer ou ouvir história, com momentos onde que ela possa se expressar livremente; essencialmente isso acontece através do brincar livre

A alimentação é um tema bastante comum quando  falamos de hábitos. Além de nutrir o corpo físico e ser um momento considerado de contração, nos aquietamos para receber o alimento preparado com amor e, ali,  os adultos têm a oportunidade de oferecer a alimentação adequada para o desenvolvimento das crianças. Mas o momento da refeição também está relacionado à vida social. Afinal, todos têm acesso ao mesmo alimento na mesa. 

Ainda, a qualidade do momento da refeição gera uma atmosfera que também as alimenta, mas não fisicamente. Para essa nutrição, podemos usar a expressão alimento anímico”, para identificar essa atmosfera emocional gerada na convivência familiar durante a refeição.  

O preparo dos alimentos também é muito pedagógico, para as crianças de segundo setênio. Eles podem ensinar sobre quantidade, peso e medidas mas, acima disso, a divisão do alimento e seu preparo marcam a passagem do tempo e  essa sequência lógica vinda de uma atividade plena de sentido é muito organizadora para qualquer criança. Percebe quantos elementos são assimilados diariamente com base nesses gestos?

Já os momentos de higiene têm forte relação com o sentido do tato e com o toque. A troca de fraldas, o banho e os cuidados diários oferecem à criança a noção de seu próprio corpo, o que mais tarde se relacionará com sua individualidade. O toque estimula o tato e, consequentemente, conexões cerebrais se aguçam. O principal hábito que está em jogo é a noção de cuidado com o próprio corpo e, consequentemente, relaciona-se com a autoestima.

De maneira geral, quando é respeitada essa alternância na forma como o dia transcorre,  ensinar a criança a dormir, torna-se natural, já que o ritmo imposto pelo dia, dita o ritmo noturno. A criança que passa um dia saudável, normalmente, dorme bem.  Como o pêndulo de um relógio, quanto mais ela vai para “fora” durante o dia, maior sua necessidade de ir para “dentro” no sono.

Os hábitos saudáveis de sono ensinam à criança a importância do repouso, em oposição ao movimento. É o momento em que o corpo se regenera, repõe as energias gastas. Ainda, quando olhamos sob o ponto de vista da ciência espiritual, neste momento do dormir, a criança tem a oportunidade de se entregar ao mundo espiritual

Neste momento sagrado, os pais podem agradecer o dia vivido, lembrando, por exemplo, como aquela rotina transcorreu. Mas na visão espiritual, o sono tem um peso ainda maior. No momento em que nossos órgãos dos sentidos se desligam das informações do mundo material, representado pelo sono, é como se entregássemos nosso corpo para uma pequena morte. E ela é essencial, pois possibilita o renascimento no dia seguinte. É um momento que merece profundo respeito e do qual os pais devem cuidar como algo precioso, afinal,  é quando a criança mais se “separa” deles. Por significar uma separação, ele pode ser vivido com medo para a criança e cabe aos pais ajudá-la a fazer uma entrega tranquila ao sono. Podemos incentivar isso ao trazer contexto e ambiente caloroso para este momento. Alguns temas trazem esse contorno, como o sentimento de gratidão pelo dia;  também, pode ser muito tranquilizador trazer à criança gestos e falas que tragam segurança de que, pela manhã, estarão juntos novamente. Os rituais são vistos com grande prazer e conforto pela criança, gerando vínculo e segurança

Aliás, a higiene do sono hoje é assunto do centro de Medicina do Estilo de vida, o Harvard Lifestyle Center. Pesquisas e estudos mostram o quanto a educação do sono influencia a vida adulta e descobriu-se que poucos indivíduos tiveram este tipo de educação. Podemos levantar a hipótese de que são aqueles que hoje lotam os consultórios com problemas de ansiedade, depressão, fobias e uma sorte de desordens mentais. O sono é mais do que restaurador, ele é vital.

Portanto, educar bons hábitos pode se tornar natural a medida que os relacionamos aos ciclos da natureza, afinal, a alternância que ocorre ali, também está acontecendo dentro de nós no decorrer do dia. Acordamos de um jeito, passamos por emoções e desafios que vão nos modificando ao longo do dia e, ao deitar, já estamos diferentes. Mas contamos com uma possibilidade incrível todas as noites, viver a nossa “pequena morte”, deixando adormecer tudo que passou para, finalmente, acordamos renovados no dia seguinte, num ciclo continuo de mortes e renascimentos. 

Certamente, com todas estas bases fortalecidas nos primeiros anos de vida, o indivíduo tende a se torna mais seguro consigo e em suas relações, criando vínculos afetivos de forma plena e se relacionando com seu meio ambiente de forma respeitosa. Afinal, ele aprendeu a se tornar humano a partir dos melhores professores, os ritmos natureza, um ambiente caloroso e o amor por parte de quem cuida.

 

Referência bibliográfica

LAMEIRÃO, Luiza Helena. Criança brincando! Quem a educa? São Paulo, Ed. João de Barro.

Camila Capel Bio

Camila Capel

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