POR CAMILA CASSIA CAPEL
#antroposofia #parentalidade
Os pais desejam ser para seus filhos a melhor referência. Todos nós queremos passar exemplos de virtudes e ensinar-lhes qualidades necessárias para que possam se tornar pessoas de bom caráter. Para essa tarefa, lançamos mão dos conhecimentos adquiridos na nossa própria educação; eles são a base para a educação que daremos aos nossos filhos.
Mas quando olhamos para nossa biblioteca interna da educação, vemos que temos muitos livros mas que eles estão, de certa forma, fora de ordem. Não encontramos o capítulo para lidar com determinada questão comportamental, por exemplo, e agimos como se nada tivéssemos nas nossas prateleiras. Esses momentos são aqueles onde, normalmente, nos saímos mal na tarefa de educar. Então, desesperados, saímos em busca de mais informações, novas teorias, troca de experiências, dicas e correntes pedagógicas para suprir uma lacuna que nem sabíamos possuir. Afinal, até então, sempre tivemos a impressão de que fomos “bem educados”.
No íntimo, nesta lacuna, moram a angústia e a sensação de impotência, a de que pouco sabemos e, consequentemente, a de que pouco podemos ensinar. Porque, no limite, se admitirmos que não estamos dando conta de educar nossos filhos como gostaríamos, estamos assumindo que somos “mal-educados”.
Uso aspas para expressar respeito que devemos ter aos nossos pais nessa constatação. Tudo o que nos ofereceram foi baseado em seus melhor, deram aquilo que podiam e sabiam. Acreditavam que estavam fazendo o melhor. E, de fato, eles estavam!
Na verdades, como pais preparamos nossos filhos com o “kit básico” de sobrevivência para a vida e cabe a cada um desenvolver-se a partir de suas necessidades específicas. Foi assim conosco, será assim com os nossos filhos. Nós aprendemos o necessário com nossos pais, mas é com a chegada dos filhos que teremos a dimensão do que realmente precisamos aprender.
Parece ser mais fácil não mexer nesse baú de lembranças e educarmos nossos filhos sem olhar o que já temos. Afinal, mesmo com faltas, hoje está tudo bem, não é mesmo? Demos conta de crescer e nosso filhos também darão. Nos tornando boas pessoas, dizemos “por favor” e “obrigado”, não atropelamos as pessoas na rua, assumimos responsabilidades no trabalho, visitamos nossos pais aos fins de semana, constituímos família e até temos filhos!
É verdade que, às vezes, até dizemos algumas palavras duras e usamos voz áspera no dia a dia; somos um tanto arrogantes quando queremos mostrar que sabemos a verdade e até impomos nossa força e vontade sem olhar para o próximo… É….talvez, no fundo, não temos tanta empatia assim…
Mas, queremos que nossos filhos tenham, não é mesmo?
Ah, tem também a resiliência- termo tão defendido nas linhas educacionais- mas ela às vezes também fica em baixa conosco; implodimos ou explodimos por atitudes cometidas pelos pequenos e, por mais que queiramos, não conseguimos exercitar o que pregamos.
Uma outra virtude que pais querem ensinar é a gratidão, mas repare o quanto é comum reclamarmos e até culparmos os filhos por exigirem muito do nosso tempo, disponibilidade e paciência? Qual mãe não sente faltar tempo para o lazer, autocuidado, prazeres da vida? Apesar de amarmos nossos filhos, dependendo da maneira que comunicamos nossa insatisfação, isso pode soar ingratidão pelo ofício sagrado que é sermos pais.
O fato é que quando nossos filhos chegam, nos deparamos com nossa própria educação. Percebemos que não fomos educados para educar e educamos com aquilo que temos à mão. Não raro, damo-nos conta de que temos pouco nessa bagagem.
Mas ao repensar conscientemente sobre a educação, podemos procurar meios para entender a nova demanda, corrigir o que não deu certo e, quando necessário, acrescentar um tanto mais para dar conta. Portanto, para educar será exigido de nós a autoeducação e isso envolve nossa disponibilidade em aprender. Nós, que teoricamente já estamos “educados”, teremos que nos curvar e admitir que somos sim um pouco “mal-educados” e, nessa atitude, estaremos ensinando mais uma virtude, a humildade.
Empatia, resiliência, gratidão, humildade…. Este é um bom repertório do que queremos que nossos filhos aprendam para encarar a vida e. talvez, para ensinar, seja necessário repensar a nossa educação. Nesse exercício, está implícita a necessidade de buscarmos essas virtudes genuínas dentro de nós mesmos. Ao lidarmos com nossa própria imperfeição, nos tornamos modelo vivo de virtudes e um exemplo digno de imitação.