O pensamento e a linguagem na criança

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Em seu estudo sobre o desenvolvimento da fala e do pensamento, apoiado nas argumentações de Rudolf Steiner, Karl König afirma que, no decorrer do segundo ano de vida a criança aprende o “dizer” e, no terceiro ano de vida, o âmbito da linguagem começa a se avivar. Ou seja, a criança adquire a incorporação viva daquilo que mais tarde ela conquistará, como a gramática e a morfologia das palavras.

Nesse período são aprendidas declinações, conjugações e comparações, mas não no sentido escolar. Trata-se da imitação e da agilidade interna que permitem que as palavras ganhem vida própria. É neste momento que começa o uso de substantivos, verbos e adjetivos. O mundo se manifesta como existência presente (substantivo); se movimenta sem cessar (verbo) e está sujeito ao julgamento e descrição de outros (adjetivo). König baseia seus argumentos no livro “Von der Sprache zu den Sprachen”, de H. Homeyer (Olten).

Com a declinação dos substantivos surge a sensibilidade para a maneira como os seres e as coisas se manifestam e se relacionam: no genitivo, que descreve relação de pertinência e participação; no dativo, que indica qualidade, lugar e ocasião, compreendendo a coisa ou ser como objeto e, por fim, no acusativo, que descreve quantidade, extensão espacial e duração de tempo.

A diferenciação de singular e plural, masculino e feminino fazem surgir, na criança que fala,  uma doutrina viva das classes gramaticais. Ao se apossar do verbo e de suas conjugações, também desenvolve a sensibilidade para os acontecimentos.

Ela fala de passado e futuro, formando as representações de tempo que, mais tarde, a levará ao passado próximo, passado remoto e futuro imediato. Com esta conquista, a criança aprende aos poucos a se autodeterminar como um sujeito que age no mundo. Com os advérbios, a criança lentamente forma a comparação. O amadurecimento gradual é a gramática viva

Neste sentido, a criança é mais ágil do que o adulto. Ao conjugar e declinar a criança usa as palavras com uma exuberância de forças formadoras. Ela não dirá lápis, mas lápises. Estas são preparações para o pensar e não os atos mentais em si.

Quando a criança produz novas denominações constituindo neologismos, composições e modificações de palavras já conhecidas, não é o pensar quem atua, mas a força plasmadora imanente à linguagem que se expressa por meio da criança. Por isso, quando perguntamos à Maria o nome de seu boneco ela primeiro diz Caco, depois Paco, depois Kiko, ou seja, produz uma variedade de nomes sem uma motivação pensada, mas pelo prazer de produzir as palavras e uma combinação de experiências sensoriais verbais. Ao longo do amadurecimento, toda comunicação é assimilada lentamente, formando um banco de dados.

Ainda que seu pensar não esteja em ação, ele está em formação. O que a criança assimila do exterior forma bases do pensamento que, mais tarde, formará os algoritmos mentais. São eles que estruturarão seu pensar quando estiver maduro. Assim, sempre que ela receber estímulos sensoriais, vai usar esse arquivo para dar sentido ao mundo e para elaborar o pensamento. Toda comunicação contribui para a formação das estruturas mentais para gerar seus futuros pensamentos e, consequentemente, sua forma de interpretar o mundo.

O mundo da linguagem dá à criança a base para o desenvolvimento do seu pensar. A razão vive na linguagem e ao falar a criança participa dela. Até por volta dos três anos ela não é capaz de pensar sozinha. Porém, falando ela exercita as regras da razão, pois a gramática é a lógica da linguagem, uma lógica universal que, mais tarde, se torna lógica individual do homem pensante. Portanto, a linguagem é anterior ao pensamento e através de seu desenvolvimento abre-se  o caminho para ele.

Camila Capel Bio

Camila Capel

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