O que limite tem a ver com amor?

Voltar para o arquivo

 

#antroposofia #parentalidade #alma #primeirosetenio

Por Camila Cassia Capel

Desde o momento em que a criança consegue se autodenominar por meio da palavra “eu”, por volta do terceiro ano de vida, surge nela uma necessidade de desenvolver sua individualidade. Para isso, ela  precisa contar com um adulto para guiá-la nesse caminho. E esse exercício gera grandes desafios aos pais.  A criança testa limites até as últimas instâncias, na verdade, ela tenta rompê-los para que o adulto a contenha e mostre até onde ela pode ir. Para a criança, a contenção de seus desejos ilimitados é a maior prova de amor que pode receber. Sem este contorno, a criança se angustia, pois ela ainda não possui recursos para cuidar de si própria e não enxerga alguém que fará isso por ela.

Quando colocamos limites às crianças estamos dizendo “eu estou vendo você, sei até onde pode ir e ir além não te fará bem. Por essa razão, eu indico as margens de onde você pode andar em segurança”. Por mais que conteste ao ser barrada em seu impulso, sua vivência interna é de amor. Como pais, somos as calçadas que delimitam o espaço da rua/vida, ou seja, os limites que colocamos não as deixam sair da trilha enquanto não podem caminhar por si só.

O excesso de opções desestabiliza, inclusive acontece conosco na vida adulta. Quem já passou pela experiência simples de olhar um cardápio no restaurante, quando se está com fome, e se angustiar por ter que escolher qual delícia vai provar? Gera angustia quando temos que fazer uma escolha única, diante de tantas outras boas opções.  Afinal,  a cada sim dito para alguma coisa, implica falarmos não para todo o resto que, muitas vezes, também desejamos. E esse lidar com o que temos que abrir mão também é angustiante. É exatamente assim que a criança se sente quando pode tudo, perde-se em ansiedade e  precisa de alguém que escolha por ela.  Limites saudáveis, de acordo com cada idade, que respeitem a individualidade da criança e que ofereçam, pouco a pouco, a possibilidade de escolha, geram recursos internos para que ela cresça de forma saudável. 

Vencer impulsos e lapidar nossos desejos é o exercício de humanidade que precisamos aprender e a infância é o tempo certo para se exercitar. Para cada faixa etária existe uma maneira adequada de colocar limites. Em geral, no primeiro setênio, contornamos os embates apelando para a fantasia. Tão em alta nesta fase, a fantasia se torna nossa aliada, porque por meio dela trazemos leveza para o dia a dia que se mostra com birras e muitos protestos.

Lançamos mão dela para nos ajudar e deixamos a criança perceber que, mesmo brincando, são os adultos que estão no comando. São eles que colocam os ritmos tais como, horários de alimentação, sono e higiene. 

No segundo setênio os limites mais salutares vem pela figura da autoridade amada, a criança respeita porque percebe naquela pessoa autenticidade e isso a faz enxerga-la como autoridade. Obviamente, ainda é uma fase de muitos “nãos” por parte dos pais, mas eles são mais permeados de sentimentos e carregados de uma atmosfera emocional. 

Já no terceiro setênio, os pais estão mais afastados dos filhos, que preferem, naturalmente, andar com seus pares; essa dificuldade de acesso traz bastante preocupação. Mas os pais ainda precisam zelar e dar contorno, cuidando para que o jovem não entre em situações as quais ele ainda não saiba lidar. Aqui, os exemplos verdadeiros dos pais na idade dos filhos ajudam com que eles percebam o que é verdadeiro. Quando entram nesse nível de diálogo, os pais ganham o respeito dos filhos e fica mais fácil exercerem sua influência.

Curiosamente, nesse exercício constante imposto pela necessidade de limites, estamos ajudando os filhos na construção da autonomia, ou seja, a possibilidade de fazerem coisas por si só. Porém, antes de ensina-la a se “virar sozinha”, temos que ensiná-la sobre o sentido de humanidade e fazemos isso através de muito vínculo e afeto. Essa construção deveria começar na infância para que, quando estejam na juventude, possam nos dar abertura e escuta para os limites, que virão através do exemplo e do respeito pelo nosso papel de autoridade. Isso não pode ser imposto, é uma conquista resultante do investimento que fazemos nessa relação desde os seus primeiros anos de vida. 

 

Camila Capel Bio

Camila Capel

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Ut elit tellus, luctus nec ullamcorper mattis, pulvinar dapibus leo.