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Parentalidade e fidelidade
Educar com amor é como acreditar que em uma semente colocada na terra estão contidas as forças necessárias para germinar flores. É confiar que a força do “vir a ser” já está contida ali. Toda criança carrega em si a disposição para o bom, o belo e o verdadeiro, e os pais são os jardineiros que propiciam solo adequado, água e adubo para ela desenvolver estes aspectos.
Esse é um exercício de extrema devoção. Afinal, temos de acreditar em algo que não vemos, não podemos provar e da qual não podemos ter certeza. Mas, mesmo assim, continuamos fazendo o trabalho à espera do dia da colheita.
É neste exercício que realmente podemos praticar o amor universal, ou seja, um amor de quem não faz para si, mas para deixar algo bom para o futuro e para o mundo. Este, talvez, seja o verdadeiro sentido de doação da parentalidade: fazer algo para o coletivo e não apenas para benefício próprio.
Rudolf Steiner coloca lindamente a fidelidade e a educação caminhando lado a lado. No educar, nos deparamos com lindos dias de sol, porém, em certas fases, vamos nos deparar com dias nublados e com nuvens cinzentas. É neste ponto que reside a fidelidade: atuar de um lugar no qual acreditamos no sol que brilha por trás das nuvens carregadas.
Em família, o sol são aqueles momentos únicos que ocorrem entre quatro paredes, sem alarde. Momentos que se refletem em pequenos gestos que emanam de nossos filhos de forma espontânea, sem que tenhamos pedido ou os ensinado. São aqueles momentos, por ora fugazes, em que enxergamos neles sabedoria, altruísmo e empatia natos, algo profundamente genuíno que parecem ter aprendido por si mesmos.
Portanto, se tivermos fidelidade nesta força interior deles, teremos capacidade de exercer a parentalidade de forma consciente. Ao vasculhar na memória, todo pai certamente encontrará momentos em que viu tudo aquilo que gostaria de ensinar ao seu filho concretizado em suas ações e o olhou com orgulho.
É essencial que, nos momentos de desafio do ato de educar, possamos manter o olhar fiel às nossas crianças. Em vez de reclamar do que não podemos fazer num dia de chuva, que possamos enxergar o sol que brilha acima dela e apenas esperar que ela cesse. Na cidade de Bergen, a segunda maior da Noruega, chove em média 200 dias no ano. Encontrei uma frase local, onde, aparentemente, os habitantes só podem esperar chuva, que expressa bem o olhar positivo que temos que ter diante dos desafios parentais: “O melhor da chuva é que ela sempre para”. E percebo que esse povo parece aproveitar mais intensamente os dias sem chuva, como presentes, onde as crianças podem, por exemplo, pular em poças d’ água. E não é assim com os filhos? Um dia é sempre diferente do outro? Mas, como os noruegueses, devemos aproveitar muito o período entre intempéries, pois é ali que a construção de momentos ensolarados da relação são construídos. Afinal, são eles que irão nos abastecer quando não podemos passear do lado de fora.
Vamos ganhar uma nova percepção dos nossos filhos? A rotina e desafios do dia a dia podem nos fazer esquecer o melhor da parentalidade. Temos um ser inteiramente disponível e totalmente apto para se tornar um grande ser humano. Como vamos usar este tempo ao lado deles?
Preparei algumas perguntas com o objetivo de fazer você se recordar desta potência que habita em seu filho (a). Que tal baixar gratuitamente o Journal parental e recheá-lo de coisas boas? Baixe material para ajudá-lo nestas percepções!