Corpo
Através do corpo orquestramos a cerimônia da vida, aliás, ele é o veículo que nos permite sermos humano. Portanto, cuidar desse sofisticado instrumento faz parte do processo de autodesenvolvimento.
Mas quando falamos em corpo é preciso considerar a presença de uma porção que carrega a vitalidade da nossa estrutura material, trata-se do nosso corpo vital. Práticas energéticas, respiração, meditações, alimentação, autocuidado e cultivo de bem estar, estão cuidando da nossa saúde. Dentre as sabedorias antigas, o Yoga, de origem indiana e Lien Ch’i, chinesa, têm ação direta sobre essa esfera vital. Em ambas as práticas, a sensação de bem estar se deve ao fluxo dessa energia vital pelo corpo, ou seja, o processo energético tem reflexos no físico. Mas ele também é diretamente impactado, além de tonificar músculos, alongar tendões, articulações, massagear órgãos e glândulas, tais práticas precisam ser construídas através de uma conexão profunda mente- corpo, tendo, portanto, ação direta no cérebro. Diferente do que se costuma achar, quem sustenta o corpo nas práticas não é a força física, mas a força da mente. É ela que permite montar posturas corretamente e permanecer nelas por longos períodos, potencializando a ação energética e mental. Essa atenção plena ao momento presente potencializa sinapses; a criação de novos circuitos neuronais ajuda na formação de imagens mentais construtivas, muda estados emocionais, traz ânimo, disposição e aumenta a capacidade de enxergar novas possibilidades frente aos desafios.
No Yoga, prática que possui cerca de sete mil anos de existência, as posturas têm o nome de ásana– que, em sânscrito, significa “posição sentada, assento ou sentar”- eles são um dos oito passos do Yoga: yamas, niyamas, ásanas, pranayama, pratyahara, dharana, dhyana e samadhi.
Os ásanas têm o objetivo de atuar diretamente no cérebro e de preparar o corpo do iogue para longas horas de meditação, que exigem muito corpo físico. Portanto, Yoga não se trata exclusivamente de atividade corporal, os ásanas são apenas parte do caminho desta filosofia de vida completa que está reunida no Yoga Sutra, escrituras sagradas organizadas por Patanjali; ele teria sistematizado os ensinamentos do Yoga nessa obra de linguagem condensada e que é referência para praticantes e professores
Sob esse ponto de vista ampliado, apesar de proporcionar força física e bem estar, estes não devem ser o objetivo do iogue, ainda que muitas pessoas cheguem ao Yoga por tais benefícios e, somente depois, aprofundam-se na filosofia. As posturas precisam ser construídas, portanto, há o uso da mente e isso exige um estado de presença absoluta. Aliás, estar no aqui e agora é a definição de estado meditativo, portanto, a prática pode ser considerada uma meditação. Além disso, a respiração tem um papel fundamental, tanto nos ásanas quanto nos pranayama. Esse fluxo respiratório tem poder de equilibrar o corpo vital, promovendo alinhamento de chakras (centros de energia espalhados pelo corpo) e, também, trazer benefícios para o corpo físico.
Já o Lien Ch’i pode ser definido como a arte de treinar energia. Com mais de mil e quinhentos anos de existência, ele se enquadra dentro dos princípios taoístas e tem origem na escola Shaolin. O médico e acupunturista, Dr. Jou Eel Jia, que passou por esta escola na China quando jovem, difunde a técnica no Brasil. Mesclando artes marciais e fundamentado no QiGong (ou Ch’i Kung), Lien Ch’i está dentro das práticas corporais da Medicina Tradicional Chinesa. Os oito movimentos levam a auto percepção mental e corporal, por isso podem se encaixam nos princípios da Body-Mind medicine (medicina do corpo e mente). Com enfoque na respiração, a prática constante ajuda no fluxo de energia pelos circuitos energéticos do organismo (meridianos), pelas articulações e tendões, movimentando o sangue, aquecendo, desbloqueando e oxigenando órgãos e músculos. A energia estagnada causa rigidez mental e fica armazenada nos músculos, órgãos e tecido, gerando, também, rigidez física, tornando-se um ciclo vicioso. Por isso, as práticas começam desbloqueando o físico, relaxando e alongando músculos e tendões, até que alcancem a circulação energética dos meridianos. Aliados aos fluxo respiratório, tais movimentos exigem do praticante concentração e estabilidade mental, portanto, podemos considera-lo uma meditação ativa.
Com a prática diária, há a liberação de emoções estagnadas, sedimentação de emoções construtivas e livre fluxo da energia pelo corpo, reequilibrando canais de energia. Como consequência, é possível sentir bem estar, harmonia mental, equilíbrio e relaxamento físico.