ParentalidadeInspiração

1. Parentalidade Essencial: A escola da vida

Tempo de leitura: 7 min

Uma escrita, muitas formas de consumi-la.

1. Parentalidade Essencial: A escola da vida
Eu leio para você…

“Um chamado para autoeducação”

Dividindo experiências, conhecimentos, acertando e, principalmente, errando, vou me tornando mais humana.

Como você reagiria se soubesse que vai receber um Iluminado em sua casa?

A criança traz o céu para a Terra, ela é um presente do mundo espiritual para o mundo terreno. Com isso, ganhamos a oportunidade de observar e viver próximos de um verdadeiro ser Iluminado. Olhar com apreciação, surpreender-se, alegrar-se na caminhada, a criança é a oportunidade de maravilhar-se todos os dias com o mistério da vida.

A parentalidade é o ser vivo que nasce quando iniciamos este novo papel de pais, é um ser que pulsa, experimenta, reinventa e evolui com seus acertos, mas, principalmente, com seus erros. A Parentalidade Essencial não é um manual sobre como ser pai ou mãe, ele é um chamado para uma construção conjunta, os pais se desenvolvendo por meio do exercício da autoeducação e os filhos aprendendo o real sentido do que é ser humano. Afinal, acima de pais, somos seres humanos desempenhando múltiplos papéis na vida, onde um deles é a parentalidade. Ao mostrar para nossos filhos que, acima de mãe ou pai, somos um ser inteiro, estamos ensinando não apenas sobre Inteligência Emocional mas, também, sobre Inteligência Espiritual

Meu impulso nasce da vontade de compartilhar minha própria prática neste exercício de disciplina constante, vontade e humildade, onde acordo diariamente pronta para me surpreender e aprender com aquilo que as crianças trazem. Para isso, conto com a Antroposofia, a visão da antropologia da criança e a Medicina Tradicional Chinesa. Estes elementos fazem meu solo firme, extrair o essencial destes saberes e trazê-los para a nossa época é meu desafio. Faço isso construindo pontes com a neurociência, epigenética e a Medicina do Estilo de Vida. Mas, acima de qualquer ciência, o essencial de qualquer educação e pedagogia deveria ser: 

Educar seres humanos em sua potência física, psíquica e espiritual, ajudando a criança a adaptar-se ao mundo social e terreno. Integrar seu pensar ao seu sentir, para que, amanhã, ela possa agir e transformar o mundo, ajudando a construir uma sociedade mais pacífica e consciente. 

Ser mãe é um caminho iniciático que começa muito antes do nascimento dos nossos filhos. Ainda, no período da inatalidade, entre a morte e um novo nascimento na Terra, os filhos nos elegem como guardiões de seus segredos. É neste momento que a centelha divina se instala no ventre de uma mulher, a partir de um encontro de almas, e inicia-se um caminho de enigmas, dos quais os pais têm as chaves. 

A criança pequena é um ser espiritual que aprende sobre si mesma através de nós. Neste sentido, a Antroposofia nos ajuda a entender cada fase do desenvolvimento humano por meio dos setênios, onde, a cada um deles, a criança vai “chegando” mais na Terra; e nós, como pais, somos seus guias nesta “chegança”. Mas temos que ter em mente que este ser possui uma história pregressa. Durante seus três primeiros setênios, teremos a grande oportunidade de nos doar para o desenvolvimento integral de um ser humano, até que, ao final deste período, ele se conecte ao seu próprio eu. Podemos fazer isto de duas formas, de maneira inconsciente ou com consciência de que nosso papel influenciará definitivamente sua jornada na vida adulta. Podemos ajudá-lo a desenvolver aquilo que seu espírito já carrega como predisposições individuais e lapidarmos seus dons, ajudando-o a colocá-los a serviço do mundo. Neste sentido, é nosso amor devocional que despertará em nossos filhos suas maiores qualidades morais. O exercício da parentalidade e autoeducação ensinam este tipo de amor.

“Não há, basicamente, em nenhum nível, uma educação que não seja a autoeducação. Toda educação é autoeducação e nós, como professores e educadores, somos, em realidade, apenas o ambiente da criança educando-se a si própria. Devemos criar o mais propício ambiente para que a criança eduque-se junto a nós, da maneira como ela precisa educar-se por meio de seu destino interior.”

Rudolf Steiner palestra de 20/4/1923, GA 306

Este conhecimento real do ser humano deve se tornar uma sabedoria,  Antropo- sofia, a sabedoria do ser humano, assim, caminharemos para uma verdadeira transformação do mundo. Segundo Peter Selg, psiquiatra alemão e autor do livro Inatalidade, se as crianças forem consideradas individualidades que estão no início de suas biografias terrestres, escolhidas conscientemente por elas mesmas, ou seja, que elas  chegam do mundo espiritual já com experiências anteriores e tarefas específicas em suas bagagens, isso mudará a maneira com que vamos lidar com elas, mas também com seu ser, que chegou sob as mesmas premissas.

“Somente as criancas tiverem sua infância respeitada e vivida em um ambiente amoroso, teremos, de fato, uma transformação da humanidade. Isso acontece quando respeitamos e aguardamos cada etapa do desenvolvimento da criança, quando criamos o ambiente adequado, com exemplos dignos de imitação, quando damos o tempo para que ela se desenvolva plenamente e, principalmente, quando a criança é cuidada com interesse e verdadeira presença do adulto. Este processo só acontece por meio da real presença e autoeducação dos pais.”

Como pais, recebemos uma criança e vemos apenas partes de seu ser inteiro e precisamos dar tempo para seu desenvolvimento completo acontecer. Mas cada parte do seu vir a ser já carrega o todo em si, e este todo, contido nas partes, revela-se a nós quando nos colocamos em estado de real presença e atenção diante da criança. Aqui reside o que há de mais sagrado no exercício da parentalidade, a capacidade de não julgar a criança pelo que ela apresenta momentaneamente, mas sermos capazes de enxergar seu ser espiritual por inteiro, ainda que a aparência momentânea não seja tão agradável, que o dia a dia encontre mais birras, cansaço e problemas, do que beleza. Isso é apenas parte de um todo perfeito, porque toda criança é um ser Divino, portanto, a sua imagem e semelhança. 

Se você leu até aqui, mesmo sem nem saber quem sou, tenho certeza de que é porque isso já é uma verdade para você e que esta parentalidade já reside em seu coração. Neste sentido, o que posso oferecer talvez não sejam as respostas, mas posso provocar inquietações e muitas perguntas para que você possa construir as suas próprias verdades. Porque somente a Vontade( com V), vinda do verdadeiro querer, desenvolve nossa autoeducação. É desta forma que podemos ser exemplo e verdadeira inspiração para que a criança, confiada aos nossos cuidados, possa educar-se em si mesma. A criança imita e precisa de adultos que a inspirem, nos quais ela confie e que suscitem nela o desejo de crescer e se tornar cada vez mais humana. Somos seu ideal de ser humano, portanto, somos seu modelo perfeito, mesmo carregando imperfeições.

A melhor maneira que nós, pais, podemos inspirar seres espirituais, é cuidando dos nossos gestos humanos, seja conosco, com eles, com as pessoas ao nosso redor, no trabalho, na vida social e com a natureza.

Neste contexto, trago algumas ferramentas que adquiri na minha pequena caminhada e que me auxiliaram neste processo que, antes de tudo, é pessoal. O conhecimento da alma humana é quase como um hobby pra mim. Mas, sinceramente, não é do estudo que extraio o material mais relevante.

No fundo, sou apenas uma MÃE como tantas, em seu sacro-ofício, no ofício sagrado, exercitando minha humanidade, portanto, cheia de imperfeições, mas que tem o amor como combustível. Sou uma mãe buscando uma Parentalidade Essencial.

“O amor mais elevado, bem como a mais elevada arte, é devoção.”

Joham Gottfried Herder (1744-1803)

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