Parentalidade

Como é uma escola Waldorf?

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Como é uma escola Waldorf?
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Escolher a escola e a idade ideal para ingressar os filhos no mundo da educação formal é uma dúvida que chega cada dia mais cedo nas famílias. A participação da mulher no mercado de trabalho, as necessidades financeiras, a falta de ajuda em casa, a fila para conseguir vaga em algumas escolas, a preocupação com a formação acadêmica e a redução do número de filhos são alguns dos motivos. Com a mudança na forma de organização da sociedade e das famílias, o que antes, durante primeira infância, era proporcionado em casa, hoje precisa contar com o apoio externo das escolas, que necessitam fornecer espaço para as relações humanas acontecerem. O surgimento de tantas escolas e pedagogias também gera dúvidas entre os pais e alguns querem entender como é uma escola Waldorf.

As escolas Waldorf têm a intenção de reproduzir o ambiente ideal para a criança do  primeiro setênio, um lar. Aquilo que seria vivenciado naturalmente nas casas é trazido para o ambiente escolar como proposta pedagógica. Isso se dá pela maneira como os ambientes são pensados e na maneira como as professoras, chamadas jardineiras, executam suas funções pedagógicas. Nos jardins Waldorf, misturam-se crianças de idades diferentes na mesma classe para que elas possam viver a diversidade e para que a professora organize o ambiente como numa casa. Imaginem uma sala com dez crianças de três anos, onde a jardineira cuida, brinca, prepara as refeições; nessas escolas, como em uma casa, as refeições são preparadas pelo professor, em classe. O fato de conviver com diversas faixas etárias propicia que a criança imite os maiores, cuide dos menores, de forma natural, não imposta. A escola Waldorf é um lugar muito humano, que planta na criança algo que ela leva para vida toda: ali ela vivencia uma grande família, um grande lar. É interessante observar os jovens dessas escolas, em uma idade em que os adolescentes normalmente são impacientes com as crianças menores, lá é comum que eles visitem os pequenos,  proponham-se a contar histórias; isso porque eles replicam parte do processo que eles mesmos viveram nos jardins.

A relação entre brincar, natureza e ritmo são pontos centrais nesta pedagogia. A alternância entre expansão/contração, inspiração/expiração marca o ritmo do dia, que começa cedo, na hora da roda, e termina com o almoço, uma contação de histórias, em que as crianças deitam em seus cestos com almofadas preenchidas de lã de carneiro ou em colchonetes, formando um ninho aconchegante onde elas podem se entregar a uma soneca até seus pais chegarem para buscá-las.

Nessa pedagogia usa-se muito o termo expansão/contração, ritmos que, coincidentemente, fazem parte do sistema respiratório. Na verdade isso não é por acaso, a grande lição que os professores desejam ensinar para crianças dessa faixa etária é RESPIRAR. Mas, para isso, usam o corpo todo, levando a experiências onde a criança alterne os próprios movimentos respiratórios, onde o ar ora entra, ora sai de nós. Assim, a contração são os momentos em que a criança se volta para ‘dentro”, como na hora do café da manhã, do lanche, da contação de histórias e do preparo semanal do pão, tudo isso lembra Já a expansão, são momentos em que a  criança se lança no mundo e tem a oportunidade de realizar o cerne da pedagogia Waldorf no primeiro setênio, o brincar livre. Neste tipo de brincar ela  pode subir, descer, criar, inventar, experimentar, errar, cair (sim, a criança vai cair na escola), enquanto a jardineira observa cada criança, para conhecê-las em suas individualidades. Ela também relaciona suas atividades ao temperamento de cada uma delas. Na antroposofia, falamos em quatro temperamentos: colérico, sanguíneo, fleumático e melancólico, o que determina como cada criança vivencia as mesmas experiências. Mas ainda sendo tão pequenos, esses temperamentos se dividem em duas grandes categorias, as chamadas crianças cósmicas e crianças terrenas, cada grupo com características, inclusive físicas, que ajudam ao professor identificar os tipos de brincadeiras e comportamentos típicos daquele perfil, ajudando-na a fortalecer traços construtivos e tirar a potência dos traços mais desafiadores.

Moral, ética, habilidades sociais não precisam ser ensinadas com discursos, porque são vividas neste ambiente, principalmente nas relações. A criança tem a oportunidade de errar, acertar, imitar – grandes estímulos para fortalecer o querer.  O querer é o que move a vontade do ser humano para suas realizações na vida e grande objetivo do educador durante o primeiro setênio. Na jardineira, a criança tem o exemplo do adulto que executa suas tarefas com alegria e presença, desde o cuidado com a higiene de cada uma, passando pela disposição para assisti-las, até as tarefas domésticas realizadas em classe com muito boa vontade. Tudo isso educa seu querer e a fomentar a ideia de que o mundo é realmente bom.  Tônica que rege a educação do primeiro setênio. O amor e a leveza das professoras se tornam exemplos que a criança aprende, carregando-os para sua vida adulta.

A pedagogia Waldorf tem enorme respeito pelas fases do desenvolvimento humano e as divide em três fases fundamentais: o primeiro setênio (0 aos 7 anos, marcado pela troca dos dentes de leite), o segundo setênio (7 aos 14 anos) e o terceiro setênio (14 aos 21 anos). Entende-se que o desenvolvimento da fase posterior está intimamente relacionado à maneira com que a fase anterior foi vivida. Desta forma, no primeiro setênio a pedagogia visa desenvolver a parte motora, quer que a criança viva no corpo suas experiências e que conquiste o ESPAÇO. Pular corda, rolar, plantar, brincar, essas atividades escondem uma verdade muito profunda. Aquilo que foi aprendido pela vivência no corpo e em meio natureza, na idade adequada, será retomado quando for a hora de aprender ciências, biologia, matemática, português e qualquer outra matéria; e a criança que teve sua fase pregressa atendida em suas necessidades terá melhor desempenho nos desafios das fases posteriores, como a capacidade do pensamento abstrato, que é necessário para a alfabetização. Segundo a neurociência, marcações neuronais foram construídas graças ao movimento, ao brincar livre e possibilidade de aprender com a natureza, e é exatamente isso que faz a criança aprender as matérias  por meio do intelecto no Ensino Fundamental, Médio e até na vida adulta. Esse tipo de inteligência, que não vive em livros, é a primeira inteligência que todo ser humano deveria aprender antes de entrar no universo da inteligência intelectual.  É por isso que na Pedagogia Waldorf a criança não recebe alfabetização antes dos sete anos. Espera-se o amadurecimento neurológico, que normalmente coincide com o fim do primeiro setênio ou a troca de dentes de leite. 

Durante seus sete primeiros anos, ela está bastante ocupada com sua motricidade, seus sentidos e sua relação com o mundo que a cerca. Um olhar atento nos permite perceber que a atividade motora bem desenvolvida (agir) no primeiro setênio, converte-se em capacidade cognitiva (pensar) no segundo setênio, que vai se harmonizar (sentir) no terceiro setênio, trazendo a base para a vida adulta.

Certamente, a escolha de um jardim waldorf exige pais disponíveis, não apenas de tempo, mas uma disposição de alma para desenvolver-se junto à criança. A própria organização da escola, que não possui um dono e é administrada em conjunto com os pais, aos poucos, exige certo engajamento da família, mas isso acontece de forma gradual e natural. Tal envolvimento traz segurança para que a criança ingresse na comunidade escolar. Então, o que no início era apenas interesse pela escola, migra para um auto comprometimento dos pais, que começam a entender o funcionamento daquele organismo e deseja fazer parte dele. Mas como ninguém nasce sabendo, os pais são convidados a aprender mais sobre a pedagogia e, consequentemente, sobre o desenvolvimento da criança e do ser humano.  Nesse caminhar gradual, a auto educação torna-se a bússola orientadora para que pais, também, aprendam com seus filhos. Talvez seja esse o grande encanto da pedagogia Waldorf , ela solicita, a todo momento, que pais embarquem em um caminho de descobertas e autodescobertas junto de seus filhos.

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