A antroposofia, o movimento do ciclo de geração e dominância da medicina tradicional chinesa, as constelações sistêmicas, olhar fenomenológico e diversas ferramentas que uso obedecem, de forma natural, aos princípios quânticos. Acontece que, na época em que tais práticas e teorias surgiram, o homem ainda não possuía a visão quântica de mundo, foi apenas por volta de 1920 que Max Planck (1858-1947) começou estudos nessa área. Até então, era a física proposta por Isaac Newton (1643-1727), físico, astrônomo e matemático inglês, que regia o pensamento humano, completamente embasado na visão puramente material do mundo. Newton trouxe contribuições sobre as leis que regem o mundo físico, que são inegáveis, a grande questão foi a unilateralidade, que levou o homem a descartar a ideia de que não existe nada fora desse domínio.
Essa construção leva o homem a um pensamento extremamente materialista e com profunda dificuldade em conceber algo que esteja fora de padrões lógicos, racionais e concretos, ou seja, uma dificuldade em entender qualquer coisa que não esteja localizada dentro de uma linha de espaço e tempo. É uma visão exclusivamente material, regida, na maior parte, pelos que nossos órgãos sensoriais conseguem captar. Tal visão de mundo tira o nosso foco do universo das possibilidades, que estão sempre acontecendo ao nosso redor, mas que, por existirem em um local fora do espaço-tempo, escapam da nossa percepção sensorial; daí, deduzimos não existirem. Mas o universo imaterial está coexistindo com o material o tempo todo, independentemente de o ser humano ter capacidades sensoriais para percebê-lo.
Acredito na existência de uma consciência criadora onisciente, onipresente, onipotente. Podemos chamá-la de consciência Una, Universal, Divina ou, simplesmente, Deus. Ela cria, a partir dela mesma, todas as coisas do universo, inclusive nossa própria consciência individual. Aliás, percebemos que este é um movimento geral, as pessoas estão, cada vez mais, buscando uma visão não dual entre espiritualidade e materialidade. Se pensarmos bem, esse não é um pensamento novo, as tradições orientais já tinham esse conhecimento.
Existem teorias e explicações aprofundadas sobre a Física Quântica que podem ser úteis para melhor compreensão deste tema abrangente, mas para a área onde atuo, autoconhecimento, faço um recorte das visões e procuro aplicá-la na minha prática. Afinal, pouco importa saber se somos feitos da mesma matéria das estrelas quando estamos vivendo depressão e ansiedade. Primeiro temos que resgatar nossa própria noção de indivíduo para depois podermos abarcar que exista algo além de nós. Mas, para quem tiver interesse, faço a recomendação das obras do físico indiano Amit Goswami (1936), também seu documentário, O Ativista Quântico. Assim como os documentários Heal, na Netflix, A Matriz Viva e Quem Somos Nós?
Para meu trabalho, a Física Quântica entra no sentido de unir o olhar científico à espiritualidade, e me permite compreender a ligação da nossa consciência com a manifestação de fenômenos no mundo material. É olhando para este aspecto, da distinção entre Física Clássica, material, feita de partículas visíveis, e a Física Quântica, que abarca aspectos não visíveis chamados de ondas, que vemos que os princípios propostos pela visão quântica de mundo se encaixam na visão de autoconhecimento que proponho. Neste sentido, alguns princípios quânticos acabam dando nomes às vivências propostas:
- Não localidade: pode ser entendida como a comunicação sem sinais, que acontece fora dos princípios do espaço-tempo, ou seja, instantânea. A comunicação pelo coração entra nesse princípio, ou seja, podemos nos comunicar de forma não local com qualquer pessoa, que esteja aqui neste planeta ou mesmo aquelas que já não mais possuem existência física. O mesmo nas constelações sistêmicas, onde podemos acessar campos de informação que ultrapassam as leis do espaço e do tempo.
- Entrelaçamento quântico: é um fenômeno da mecânica quântica que ocorre quando duas partículas estão conectadas de forma a, instantaneamente, compartilhar seus estados físicos, não importando quão grande seja a distância que as separa. Esta visão pode ser entendida como sincronicidade, um fenômeno não local entre dois eventos, que acontecem no mundo físico e no mundo mental e que estão correlacionados por meio do significado que surge na mente. O termo foi usado pelo suíço Carl Gustav Jung para retratar aquelas “coincidências” sem causa, as conexões que começam a surgir quando começamos a ganhar consciência, os encontros e as “coincidências” que passamos a experienciar, quando entramos no caminho do autodesenvolvimento, quando começamos a ver coisas que antes não enxergávamos e somos surpreendidos pelas mágicas da vida.
- Descontinuidade: Niels Henrik David Bohr (1885-1962) foi um físico dinamarquês que estudou o comportamento do elétron e percebeu que eles saltavam de uma órbita atômica para outras sem atravessar um espaço entre elas, é o salto quântico do elétron. O elétron ora aparece em uma camada eletrônica, ora em outra. Nesses saltos, as coisas acontecem de forma não linear, ou seja, não obedecem a uma lógica prévia. Nesta visão, acrescentamos ainda o alemão Werner Heisenberg (1901-1976), que em 1927 formulou o princípio da incerteza. Segundo ele, a luz tem natureza ondulatória e os átomos absorvem e liberam energia. Quando o átomo absorve energia, torna-se instável e salta de uma órbita para outra em saltos quânticos. Ao acumular a energia, o átomo sempre vai saltar, o que não podemos prever é onde e quando ele fará isso, porque isso está no campo das possibilidades, ou seja, um reino que existe em potentia transcendente. O conhecido experimento do gato de Schrödinger* nos faz chegar a uma solução idealista de que somos nós (a nossa consciência) que geramos o colapso, ou seja, manifestamos a realidade em que acreditamos.
*Ref.: Goswami, Amit.O Universo Autoconsciente. Goya, capítulo 6.
- Onda e partícula
O experimento da fenda dupla é importante para a compreensão da visão quântica. Ele foi realizado pela primeira vez em 1800 pelo físico inglês Thomas Young. Para não entrarmos em teoria, o que nos interessa deste experimento é a compreensão de que aquilo que não vejo são ondas e o que vejo são partículas. Uma particularidade da onda, feita em experimentos, é que, ao ser observada, ela se torna partícula.
Como eu construo pontes entre quântica e autoconhecimento
Relacionando este experimento à minha área, podemos entender que as experiências do mundo físico são coletadas a partir dos órgãos sensoriais, criando impulsos elétricos, gerando uma quantidade de energia que chega até o cérebro e é transmitida aos neurônios. Esses impulsos elétricos geram ondas (alpha, beta, theta, delta, gama), a consciência é a flutuação dessas ondas. Além disso, a atuação do hemisfério direito e esquerdo juntos, torna-nos capazes de dar significado às experiências, ou seja, codificar o impulso na forma de pensamentos, ideias e nomear sentimentos, por exemplo. Essa atividade gera conexões neurais, chamadas conectomas que, na visão quântica, podem ser entendidas como partículas, pois elas existem no mundo material e podem ser detectadas a partir de exames de ressonância magnética funcional, por exemplo, ou seja, conexões fazem parte do mundo da matéria.
Pense quando, por exemplo, estamos expostos a um ambiente onde escutamos frequentemente uma determinada língua estrangeira e não a entendemos, durante este tempo estamos captando aqueles sons. No entanto, um dia, resolvemos estudar aquela lingua, entender sua gramática e regras. Aprendemos a língua nova e as mesmas palavras, que não entendíamos, passam a ser compreendidas, ou seja, ganhamos consciência. As palavras sempre foram ouvidas, existiam enquanto possibilidade, porém, apenas quando fazemos conexões cerebrais, é que elas passam a fazer sentido e, portanto, tornaram-se parte da consciência.
Esta é a visão que me impulsiona a continuar o meu trabalho de difundir conhecimentos científicos e espirituais. Não importa se as pessoas vão compreendê-los agora, neste momento podem ser apenas palavras, mas sei que em algum lugar dentro delas isso está guardado; e no momento certo, isso se tornará consciência.
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