Segundo um artigo de Antonio Silvio Hendges, morfo vem da palavra grega morphe, que significa forma; genética vem de gêneses, que significa origem. Os campos morfogenéticos, campos morfogênicos ou, ainda, campos mórficos, são campos de forma, campos padrões ou estruturas de ordem. Campos morfogênicos podem ser entendidos como ordens e estruturas que dão forma a padrões de comportamentos.
Os campos morfogenéticos fazem parte de uma teoria formulada pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake, para explicar que padrões de atitudes individuais se tornam hábitos pela repetição e terminam se consolidando como um comportamento coletivo. Quanto mais gente é envolvida, mais fácil e mais rápida fica a mudança de comportamento.
Rupert Sheldrake traz a hipótese de que a memória é algo intrínseco na natureza, ele acredita que as leis naturais são, na verdade, oriundas de hábitos. Isso nos leva a pensar que a teoria das evolução deve levar em conta os hábitos incorporados, como ele discute em “A presença do passado”. Portanto, não podemos considerar apenas a evolução biológica mas, também, a evolução química, física, cósmica, mental, social e cultural quando olhamos para a evolução das espécies.
Estes campos organizam não só os campos de organismos vivos, mas também de cristais e moléculas. Cada tipo de molécula, cada proteína, por exemplo, tem seu próprio campo mórfico – hemoglobina, insulina e todas as outras substâncias do nosso organismo. Do mesmo modo, cada tipo de cristal, cada tipo de organismo ou, também, cada padrão de comportamento, tem seu campo mórfico. Esses campos são os que ordenam a natureza e, juntamente com as leis físicas, são atraídos para dar formas à matéria. Há muitos tipos de campos, porque há muitos tipos de coisas e padrões dentro da natureza. A contribuição de Sheldrake foi juntar noções vagas sobre os campos morfogenéticos (Weiss, 1939) e formular em uma teoria demonstrável.
É importante salientar que esses campos não físicos carregam informações e não energia. Um campo morfogenético não é uma estrutura inalterável, ele muda ao mesmo tempo em que o sistema com o qual está associado muda. O campo morfogenético de uma samambaia, por exemplo, tem a mesma estrutura que os campos morfogenéticos de samambaias anteriores do mesmo tipo. Os campos morfogenéticos de todos os sistemas passados se fazem presentes para sistemas semelhantes e influenciam neles, de forma acumulativa, através do espaço e do tempo. A palavra-chave aqui é “hábito”. Este é o fator que origina os campos morfogenéticos. Através dos hábitos, os campos morfogenéticos vão variando sua estrutura, dando causa às mudanças estruturais dos sistemas aos quais estão associados. Por exemplo, em uma floresta de coníferas, é gerado o hábito de estender as raízes mais profundamente para absorver mais e/ou melhores nutrientes. O campo morfogenético da conífera assimila e armazena essa informação, que é herdada não só por exemplares no seu entorno, mas em florestas de coníferas em todo o planeta por efeitos da ressonância mórfica.
“Os campos morfogenéticos, ou campos mórficos, são campos que levam informações, não energia, e são utilizáveis através do espaço e do tempo sem perda alguma de intensidade depois de terem sido criados. Eles são campos não físicos que exercem influência sobre sistemas que apresentam algum tipo de organização inerente.”
O conceito central desta ideia de campo morfogenético é compreender como as coisas tomam forma ou padrão de organização. Isso vai desde a formação das galáxias, átomos, cristais, moléculas, plantas, animais, células, órgãos, até chegar ao ser humano como um todo e, também, à organização das sociedades. Em síntese, este conceito cobre todas as coisas que têm formas e padrões, estruturas ou propriedades auto-organizativas.”
“Todas estas coisas são organizadas por si mesmas. Um átomo não tem que ser criado por algum agente externo, ele se organiza só. Uma molécula e um cristal não são organizados pelos seres humanos peça por peça, senão cristalizam espontaneamente. Os animais crescem espontaneamente. Todas essas coisas são diferentes das máquinas que são artificialmente montadas pelos seres humanos.”
Se pensarmos na estrutura do DNA, os genes do corpo possuem a mesma informação, mas, em cada parte do corpo, eles recebem uma informação para fabricar proteínas apropriadas para realizar sua função. Apesar de serem feitas do mesmo material, diferenciam-se nas suas funções. Estamos dizendo que existe um campo de informação que faz, desde a concepção, uma célula ter funções hepáticas e outra, cardíacas, que fazem vários átomos, moléculas, células e tecidos se juntarem dando origem a um intestino ou a um fígado, por exemplo.
“Esta teoria trata sistemas naturais auto-organizados e a origem das formas. E eu assumo que a causa das formas é a influência de campos organizacionais, campos formativos que eu chamo de campos mórficos.”
A característica principal é que a forma das sociedades, ideias, como também de cristais e moléculas, dependem do modo em que tipos semelhantes foram organizados no passado. Há uma espécie de memória integrada nos campos mórficos de cada coisa organizada. Eu concebo as regularidades da natureza como hábitos mais que por coisas governadas por leis matemáticas eternas que existem, de algum modo, fora da natureza.” (Sheldrake, 1981).
A partir deste ponto de vista, podemos começar a nos entender como parte de uma cadeia de eventos e hábitos herdados. Não apenas nosso DNA nos conecta, mas tudo aquilo que aprendemos desde que nascemos em uma família, crenças, valores, cultura, hábitos: tudo isso está impresso neste campo e, dessa forma, de maneira inconsciente, repetimos padrões de pais, avós e antepassados. Aqui voltamos à questão dos hábitos, que são transgeracionais.
“Hábitos são sujeitos a seleção natural e quanto mais frequentemente são repetidos mais prováveis se tornam. Animais herdam hábitos exitosos de suas espécies como instintos. Nós herdamos hábitos corporais, mentais, emocionais e culturais, incluindo os hábitos de nossas línguas ”
Shledrake
Estes campos subjazem nossa atividade mental e percepções e interligam grupos, mesmo a quilômetros de distância, proporcionando canais de comunicação não local. Neste sentido, Sheldrake afirma que a telepatia é normal e não paranormal, natural e não sobrenatural. A obra “Os cães que sabem quando seus donos estão voltando para casa” discute evidências de que muitas das espécies animais se comunicam por telepatia, este seria seu meio normal de comunicação. Ainda, é especialmente comum entre pessoas conhecidas e que possuem vínculos fortes, todos nós possuímos a experiência de pensar em alguém e sermos surpreendidos por sua ligação ou mensagem. Também, a relação entre mãe e filho que consegue captar sentimentos à distância ou amigos que sabem o que o outro está pensando.
O Shledrake fala que estes campos mórficos de atividade mental não estão confinados dentro da nossa cabeça, ele se propaga além da caixa preta fechada que é nossa caixa craniana.
Campos morfogenéticos se propagam além dos objetos materiais a que se vinculam: “por exemplo, os campos magnéticos se desdobram para além da superfície de ímãs; o campo gravitacional da Terra se estende muito além da superfície planetária, mantendo a lua em sua órbita; e os campos de um telefone celular se estendem muito além do próprio telefone.
A socióloga e psicoterapeuta Zaquie C Meredith afirma que mórfico é o processo pelo qual o passado se torna presente dentro dos campos mórficos. A memória dentro dos campos mórficos é cumulativa e é por isso que todo tipo de coisas se torna cada vez mais a somatória de hábitos, através da repetição. E quando essa repetição ocorre numa escala astronômica de bilhões de anos, como tem acontecido com muitos tipos de átomos, moléculas e cristais, a natureza dessas coisas se tornou tão profundamente habitual que é quase imutável ou até parece eterna.
Inconsciente coletivo
Este ponto de vista está em total acordo com a visão de Carl Gustav Jung (1985-1961), psiquiatra e psicanalista suíço criador da psicologia analítica. Foi ele quem trouxe este conceito também em relação ao comportamento humano, trazendo, pela primeira vez, o conceito de inconsciente coletivo. Exatamente a ideia de um campo de informação que é acessado a todo momento por todos nós, de maneira não consciente, mas que nos impacta no comportamento e tipos de vivências. Essa região seria construída por informações e impressões herdadas pela família e indivíduos de fora, sendo um campo para guardar ideias pré-concebidas. Aqui também entra o conceito de arquétipo, usado na filosofia e na psicologia: arquétipo (do grego arché, ponta, posição superior, princípio/ tipós, impressão, marca, tipo) é o conceito de um modelo primordial, uma espécie de protótipo.
Constelações sistêmicas
Essas informações não obedecem às leis de espaço e tempo e são utilizadas dentro do campo sem perda alguma de intensidade após terem sido criadas. Podemos entender os campos morfogenéticos como sistemas que organizam seres na natureza, determinando padrões ou formas de comportamento e até pensamentos de grupos e espécies. Ainda, cada indivíduo daquela espécie fortalece aqueles padrões ou não, de acordo com seus comportamentos. Esse padrão coletivo é observado em organismos vivos e também em cristais, moléculas, instintos e dentro de sistemas familiares, por exemplo, onde indivíduos de gerações posteriores continuam carregando padrões e crenças de seus ancestrais, mesmo sem terem conhecimento da existência destes.
O conceito central que rege a visão das Constelações Sistêmicas encontra sua explicação na teoria dos campos morfogenéticos. É nesse campo que elas atuam, acessando informações que ficam disponíveis durante uma constelação. A dificuldade de compreensão existe porque não conseguimos pensar em tais campos por meio do intelecto, trata-se de uma capacidade de percepção sutil, que é desenvolvida pelos profissionais que se habilitam a esta tarefa. Nessa técnica, o facilitador, observa os desequilíbrios do campo e, através de falas ou dinâmicas feita por representantes, o cliente pode reconhecer e ganhar consciências sobre dinâmicas atuantes em sua vida e, a partir disso, tomar novas atitudes diante das circunstâncias que estão em desequilíbrio.
Referências e citações extraídas de:
MELLO, Shirlei Silmara de Freitas. Constelações familiares e campos morfogenéticos.
HENDGES, Antonio Silvio. A teoria dos campos
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