Em Massachusetts General Hospital, foi instituído o Benson Henry Institute for Mind-Body Medicine, onde realizam a clínica, pesquisa e educam profissionais para esse conceito. Ali, eles estudam meios de combater o estresse e aumentar a resiliência, com foco em práticas que integram corpo e mente no sistema de saúde, como: Meditação, Yoga e Tai Chi.
Ali, também, os médicos ensinam essas práticas e apoiam o poder de cura que parte, inclusive, do indivíduo, fazendo com que ele mesmo tenha autodeterminação para seu processo de saúde. Portanto, o paciente aprende práticas para sua capacitação. Tudo é feito com monitoramento constante, em um espaço seguro, e exames científicos que comprovam a conexão mente-corpo. Com isso há a diminuição das fronteiras entre religiões, ciência e práticas seculares.
O programa é amplo e dentre os temas tratados estão:
- Resiliência, como algo que pode ser construído, isso vem ao encontro da salutogênese, um dos temas que abordo.
- Técnicas de respostas relaxantes (Yoga, Tai Chi, Meditação, Lien Chi, Chi Kong);
- Estar consciente das emoções e efeitos na fisiologia;
- Incentivo para promoção de conexões sociais e laços afetivos;
- Mudanças de hábitos e estilo de vida (sono, alimentação, movimento, vícios, etc.).
Até aqui, falei dos conceitos científicos, mas apenas isso não respondia minhas perguntas sobre como esses processos aconteciam, e precisei ir além… considerar a presença de uma energia que rege os processos…
Resgatando os conhecimentos milenares
Ch’i para Medicina chinesa, Prana, para o yoga ou, simplesmente, a energia vital. Trata-se da energia que permeia todas as coisas do universo e que sustenta nossa vida. Ela circula pelo nosso corpo através dos meridianos, canais de energia estimulados em técnicas como a acupuntura. Essa energia é responsável pelos nossos processos vitais, ela quem faz nosso esqueleto, formado por ossos, carregar a vida e que possamos manter a postura ereta. Esse fluxo energético forma um tipo de força que nos sustenta em pé. Nossa postura é formada pela ação das forças advindas dos nossos processos vitais, que incluem sistema neurossensorial, cardiorrespiratório e metabólico motor. A junção de todos esses processos sustentam nossa fisiologia. Portanto, a energia vital é a energia da vida. Quando Ch’i está forte, sentimos disposição, entusiasmo e vontade de concretização.
O Ch’i é gerado a partir da nossa energia essencial, o nosso Jing ancestral – que os chineses chamam de Energia Pré-Natal. O Jing refere-se à quantidade de reserva energética que temos para usar do nascimento até a morte, é uma energia, portanto, algo não material e está armazenado em nosso rim. Mas mesmo tendo um estoque, podemos acrescentar mais energia, chamada Energia Pós-Celestial – esta é gerada a partir da essência dos alimentos, da essência do ar e da nossa atividade mental em equilíbrio, o que inclui a organização das nossas emoções. Para boa saúde, devemos investir na energia pós-natal contribuindo para menor desgaste do nosso Jing. A medicina chinesa usa um tripé para orientar a melhor administração do Jing, em que o alimento garante a energia da terra para nosso organismo, a respiração garante a qualidade e boa assimilação do ar inalado e a energia vital garante o calor necessário à vida. Essa junção seria a fonte da nossa longevidade.
E são nos primeiros anos de vida que moldamos o organismo sobre como ele vai operar na vida adulta. Por isso, devemos dar especial atenção ao ritmo da vida da criança, alimentação, cuidados, tato e possibilidade de movimentos, principalmente por meio do brincar livre. Assim, quando adultos, essa energia possuirá um ritmo harmônico e consumirá, de maneira mais lenta, a poupança de vitalidade que todo ser humano herda de seus pais no momento da concepção. O simples fato de estarmos vivos consome essa reserva, mas podemos cuidar e gastá-la de forma mais lenta, por meio da boa alimentação, qualidade do ar que respiramos e do equilíbrio da nossa mente. Mas o fato é que, gastando rápido ou lentamente, por volta dos 42 anos, a curva de energia vital de todo ser humano, que sempre foi ascendente, naturalmente, começa a cair; por isso, quanto mais velhos, menos energia vital temos e os cuidados começam a ter que ser redobrados, não contamos mais com a forcinha ascendente. Isso acontece por uma sabedoria da natureza, o processo do ganho de consciência consome energia vital.
Para a visão de saúde ancorada nas tradições milenares, como Medicina Chinesa e Ayurveda, o ser humano saudável seria aquele que consegue quebrar e transformar todo tipo de alimento que ingere; dessa forma, em teoria, fomos feitos para conseguir digerir tudo. A doença seria a falta de capacidade do organismo de digerir o que comemos. Quando esse processo não ocorre em harmonia, de maneira sistêmica, outros órgãos são impactados, suas funções passam a operar em desarmonia e os processos de adoecimento tem seu start. Mas se em teoria podemos comer tudo, por que adoecemos?
A saúde se sustenta em um tripé e quando há desequilíbrio – pela falta de energia Pós-Natal ou por uma carência da energia ancestral – todo o sistema é influenciado e os alimentos não sofrem o processo de quebra e transporte adequadamente. Por exemplo, a falta de calor não cozinha o alimento ou a respiração inadequada não permite ao pulmão fazer a síntese da energia sutil do alimento. Esse é o dilema humano, temos a fórmula mágica nas mãos, mas dependemos de fatores externos e somos reféns da própria constituição.
O papel do autoconhecimento para a saúde integral
É por isso que insisto tanto na importância da consciência, ou melhor, da autoconsciência, que é o conhecimento sobre nós e sobre nosso próprio funcionamento. Penso que isso traz a oportunidade de ficarmos mais íntimos de nós mesmos, encontrar caminhos individuais e entender as mensagens que nosso corpo está trazendo. O corpo é um campo de projeção da mente que serve de veículo de acesso aos nossos conteúdos anímicos, ou seja, aos nossos universos emocional e espiritual.
Também o conceito de Leis Biológicas ou Medicina Germânica sugere que todas as doenças são causadas por traumas emocionais específicos e que nós possuímos mecanismos internos para curar doenças. A cura estaria no fato de ganharmos consciência sobre os processos que desencadearam determinadas emoções; essa medida, aparentemente simples, atua em nossa mente e, consequentemente, muda a fisiologia.
Importante salientar que essa visão (não científica) não pretende fazer apologia ao não uso de medicamentos ou tratamentos convencionais, mas se trata de uma alternativa que coloca pacientes no centro, saindo do papel passivo e podendo, também, dentro de suas possibilidades, atuar em prol da sua cura. Essa possibilidade chama-se consciência.
Unificando corpo e mente
Para a Medicina Tradicional Chinesa, não existe a subdivisão entre corpo, mente e espírito; e por não existir tal divisão, enquanto o corpo experiencia tais desequilíbrios, a mente do indivíduo também está em desarmonia. Por essa ligação direta, naturalmente, um desequilíbrio físico é capaz de deixar a mente confusa e isso nos faz enxergar a realidade de forma conturbada. Nesse caso, novamente, entramos no ciclo da criação de uma realidade interna não condizente com a realidade externa. Mas mesmo sendo uma projeção da mente, as sensações experienciadas mexem na fisiologia, pela ligação com o sistema nervoso autônomo (SNA); assim, o processo se retroalimenta em um círculo vicioso. Mas há um ponto de equilíbrio e ele se encontra em nosso centro, ali temos o coração. Chamado de Xin pelos chineses, é ele quem abriga nosso Shen, que pode ser entendido como o espírito que governa nossa mente.
Este ponto de vista corrobora com a visão trimembrada do ser humano. Segundo ela, o ser humano é composto pelas polaridades: sistema neurossensorial e metabólico motor. Mas tem no centro o sistema cardiorrespiratório, fazendo o equilíbrio entre os sistemas polares. O ser humano tem como tendência natural capturar o exterior, especialmente pelo que vemos e ouvimos e transformar aquilo em uma imagem no cérebro; nessa explicação, podemos entender a cabeça como o local que tem tendência de dar forma às coisas, portanto, relacionada à rigidez e à dureza. Se pensarmos nisso, o fato de armazenar tudo que vemos e ouvimos nos tornaria tão rígidos quanto estátuas.
Pela sabedoria do corpo, existe uma regulação natural para que sempre tenhamos fluidez, existe um controle do excesso dessa tendência à rigidez e a criação de forma pela mente. Assim, para “dissolver” as imagens que vamos criando, há uma força oposta que vem da região metabólica trazendo calor, mais especificamente, este vem da região dos rins. Tecendo um paralelo, para a MTC, os rins estão relacionados com a água, e o sabor relacionado a este elemento é o salgado; sabemos que a água salinizada tem o poder de dissolver, sejam edemas, muco nasal, e atuando positivamente em processos inflamatórios e cicatrizações.
Em resumo, podemos entender que o processo humano conta com duas forças: uma que vem da cabeça (região fria, do pensar e que quer endurecer algo) e em oposição, uma força que sobe da região metabólica (considerada quente e que quer dissolver). E esse jogo de forças, que é regulado pelo elemento rítmico da respiração, é quem fornece oxigênio necessário para que os rins tenham energia suficiente para ascender com potência suficiente para gerar oposição e fazer a energia voltar para o centro, onde o coração faz circular a energia vital pelo corpo todo através dos vasos e fluxos sanguíneos.
Por que adoecemos?
A doença seria, exatamente, o desequilíbrio entre as polaridades, quando o que vem de cima, do “frio”, não encontra a oposição suficiente do que vem de baixo, que deveria fornecer o “calor”. Quando isso acontece de maneira adequada, a circulação sanguínea e o fluxo respiratório fazem a mediação correta, caracterizando-se por ser a região “morna” que irriga todo o organismo.
Nessa visão ampliada sobre os processos de adoecimento, a doença física é o último estágio de uma manifestação que começa em um nível invisível, o energético. Antes de uma manifestação limitante para o corpo, acontecem três estágios anteriores. Quando aprendemos a identificar esses estágios, podemos nos cuidar e até gerar a modificação do curso de uma doença. Mais ainda, mesmo que a doença acabe se instalando, aprendemos a “voltar o filme” e, aos poucos, ganhamos consciência do nosso próprio funcionamento. Isso fará diferença em uma próxima vez que começarmos a adoecer. Em resumo, conhecer esses princípios nos traz conhecimento sobre nós, sobre nosso próprio funcionamento e aprendemos a ficar mais íntimos de nós mesmos.
Esse panorama geral sobre a doença traz um olhar muito mais amplo do que apenas a de um órgão adoecido. Entender as relações das partes constrói uma visão mais integrada do nosso corpo e nos dá a oportunidade de entender como podemos atuar para contribuir em nosso próprio processo de saúde.
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