POR CAMILA CASSIA Capel
Todas as atividades requerem um período de preparo, realização e finalização, ou seja, evidenciam a passagem do tempo. A aquisição de uma nova habilidade, o aprendizado de uma língua, de um instrumento ou de uma história, necessitam de tempo até serem incorporados como um hábito. Os hábitos bons ajudam, pois trazem equilíbrio, organização e nos orientam na condução de nossas vidas. Também podemos perceber a força de um mau hábito, o quanto é difícil nos livrarmos dele. O temperamento do indivíduo influencia na maneira como os hábitos vão se instalando, então eles começam a formar traços, tornam-se o jeito de ser e acabam, por fim, moldando a personalidade.
Os ciclos do sol e da lua, as estações, dia e noite, as festas relacionadas aos solstícios de verão e inverno eram os elementos com os quais, na antiguidade, o homem se relacionava com o tempo. Há uma sabedoria nisso que ainda reside no interior da criança, por sua forte ligação com o cosmo no primeiro setênio. Podemos aproveitar esta fase humana para instaurar bons hábitos que a criança levará por toda a vida ‒ os fundamentais são os ritmos de respiração, alimentação, higiene e sono.
A respiração é o principal aprendizado nos primeiros anos de vida. Esse respirar se relaciona à alternância da contração, expansão, no período da vigília. Para exercitá-lo, é importante intercalar momentos onde a criança se sente, alimente-se, ouça histórias, por exemplo, com momentos onde ela possa se expandir, como através do brincar livre. Já no período da noite, quando o dia está escurecendo, idealmente, a criança deveria se recolher e se preparar para o início do sono.
O momento da alimentação é considerado um momento de contração. Nos aquietamos para receber o alimento preparado com amor e os adultos têm a oportunidade de oferecer os alimentos adequados para o desenvolvimento das crianças. A qualidade do momento da refeição gera uma atmosfera que também as alimenta. O alimentar-se também está relacionado à vida social, nessa hora, todos na mesa têm acesso ao mesmo alimento. Ainda, o preparo envolve e marca a passagem do tempo. Perceba quantos elementos são assimilados diariamente com base nesses gestos cotidianos e simples?
Os momentos de higiene têm forte relação com o toque, a troca de fraldas, o banho, os cuidados diários. Todos eles oferecem à criança a noção de seu próprio corpo, o que mais tarde se relacionará com sua noção de individualidade. O toque estimula o tato e, consequentemente, conexões cerebrais se aguçam. O principal hábito que está em jogo aqui, é a noção de autocuidado a autoestima.
Os hábitos saudáveis de sono ensinam à criança o repouso, em oposição ao movimento. Como o pêndulo de um relógio, quanto mais a criança vai para “fora”, no atuar durante o dia, maior sua necessidade de ir para “dentro”, no recolher-se no sono. É o momento em que o corpo se regenera, repõe as energias gastas no dia e a criança tem a oportunidade de se entregar ao mundo espiritual. Neste momento sagrado, os pais abençoam o dia vivido e ocorre uma espeecie de “pequena morte”, é isso que o sono representa. Uma morte que possibilita o “renascimento” no dia seguinte. É um momento do dia em que a criança mais se separa de seus pais, por mais horas, e por esse motivo, pode ser vivido com medo para algumas crianças. Cabe aos pais ajudá-la a fazer uma entrega tranquila, com o sentimento de gratidão pelo dia e a segurança de que, pela manhã, estarão juntos novamente. Os rituais são vistos com grande prazer e conforto pela criança, gerando vínculo e segurança.
A higiene do sono hoje é assunto do centro de Medicina do Estilo de vida, o Harvard Lifestyle Center. Pesquisas e estudos mostram o quanto a educação do sono influencia a vida adulta. Descobriu-se que poucos indivíduos tiveram este tipo de educação. Podemos levantar a hipótese de que são aqueles que hoje lotam os consultórios com problemas de ansiedade, depressão, fobias e uma sorte de desordens mentais. O sono é mais do que restaurador, o sono é vital.
Com estas bases fortalecidas, o indivíduo torna-se mais seguro consigo e nas suas relações, cria vínculos afetivos de forma mais plena e se relaciona com seu meio ambiente de forma respeitosa, pois aprendeu a se tornar humano a partir dos ciclos da natureza.
Referência bibliográfica
LAMEIRÃO, Luiza Helena. Criança brincando! Quem a educa? São Paulo, Ed. João de Barro.
#antroposofia #parentalidade #espiritualidade
Comente, queremos ouvir você.
Acreditamos que a troca é fundamental para evolução da nossa consciência.
O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *