Na década de 90, Antonio Damásio, um dos autores que influenciou Daniel Goleman, jornalista, psicólogo, escritor e considerado o pai da Inteligência Emocional, fizeram contribuições riquíssimas para esta área da saúde mental. Aprender habilidades socio emocionais (HSE) e praticar as chamadas soft skills, alteraram práticas de educação e até no mundo dos negócios. Os autores trouxeram clareza sobre o conceito de duas mentes –racional e emocional– explicando como ambas juntas atuam em nossa realidade e destinos.
Os sentimentos primários existem em todos nós, mas, na maioria das vezes, nosso cérebro racional acalma as emoções, trazendo justificativas e lembrando-nos de que somos adultos, reafirmando nossas crenças e nossos valores. Assim, aprendemos a calar as sensações. Aprendemos a controlar raiva, medo, inveja exemplos de sensações desconfortáveis e que não são socialmente aceitas. Mas toda vez que sentimos uma emoção, ainda que este circuito da razão aconteça, paralelamente corre um circuito ainda mais rápido, o do sistema nervoso autônomo (SNA), que ocorre em duas vias, simpática e parassimpática. Este sistema é regido pelas nossas emoções e não pela nossa razão. Isso significa que ao sentirmos uma explosão bioquímica, que chamamos emoção, nosso sistema nervoso autônomo envia para o corpo todo uma resposta baseada no que sentimos e não no que pensamos. Isso acontece em milésimos de segundo – entre o sentir e codificar – mas a descarga da emoção corre mais rápido, gerando resposta fisiológica imediata. Este é o mesmo que ocorre no “mecanismo luta ou fuga”, segundo ele, diante de uma situação de perigo, o sistema nervoso autônomo responde muito rápido pois aciona o cérebro reptiliano, cérebro primitivo, que herdamos dos nossos ancestrais que viviam, de fato, perigos de luta ou fuga diariamente. Seus cérebros não pensavam, mas seu corpo era preparado para ver perigo e reagir a ele. Evoluímos, ganhamos o neocórtex, cérebro mais sofisticado, capaz de pensar e elaborar respostas adequadas ao meio. É ele quem faz, por exemplo, ao ouvirmos um barulho de aparente perigo, como um estouro, por exemplo, discernir que o estouro é um pneu de caminhão na rua, e não um barulho de tiro; assim, podemos acalmar. Este caminho de resposta é usado o dia inteiro, sempre que recebemos um estímulo do meio, estamos constantemente elaborando julgamentos sobre o que é e como devemos responder. A questão é que mesmo quando conseguimos compreender e dar significado a uma forte emoção, retornando ao estado normal, uma carga de hormónico cortisol já foi despejada no sangue, ele quem faria o sangue circular mais depressa, suspenderia atividades fisiológicas secundárias diante do perigo, como digestão, dilataria pupilas e aumentaria sangue nos músculos. Pense que todo este preparo seria essencial para nossos colegas ancestrais diante de um leão por exemplo. Atualmente, não convivemos com leões, mas o sistema ficou de herança. Assim, estamos sempre sendo bombardeados de hormônios de estresse para lutas supostamente desnecessárias. Além disso, esta carga de energia que não foi usada, fica alojada no corpo na forma de carga alostática.
Uma outra herança do passado é que o cérebro era muito preparado para ver possíveis perigos que ameaçariam a sobrevivência, assim, o ser humano, naturalmente, tem tendência de enxergar problemas, é uma espécie de radar.
Uma outra descoberta da neurociência, é que não precisamos estar vivendo a emoção para que a liberação da carga fisiológica aconteça. Os pensamentos não possuem a relação “tempo-espaço”, portanto, recordar-se de algo ruim, ou apenas imagina-lo hipoteticamente, faz com que o corpo tenha uma reação fisiológica como se aquilo fosse real; ou seja, o cérebro não sabe se estamos ou não vivenciando tal fato agora, passado ou imaginando um futuro, mas reage como se fosse o momento presente. Nossa mente tem a capacidade de entender que aquilo é imaginado, mas o corpo, não, e obedecerá ao sistema nervoso autônomo, que é regido pelas nossas emoções.
Mas a boa notícia é que o sistema nervoso autônomo também responde a estímulos de alegria e envia para nosso corpo sinais de que tudo está bem, neste caso, melhorando nossa fisiologia. Isto nos abre um ponto de vista positivo. Se nosso sentir é capaz de mudar a fisiologia, também podemos nos utilizar desta inteligência para imaginar e sentir coisas boas, obtendo ganhos para o corpo. Neste sentido, podemos obter alívio, conforto, plenitude, satisfação e alegria a partir da evocação de boas lembranças, que provocarão sentimentos e sensações construtivas, influenciando nosso sistema nervoso autônomo e, consequentemente, nossa saúde como um todo.
No caso da tristeza, saudade e até sofrimento pela perda de alguém, acessar as memórias positivas ou sentimentos de gratidão, compaixão, equanimidade, deixando-se tocar pelas sensações de alegria, plenitude, também enviará este tipo de informação para o sistema autônomo, que responderá com uma carga de e neurotransmissores de bem-estar, satisfação, bom humor; com isso, entramos em um estado de coerência cardíaca. Esta descoberta já influenciava muitas abordagens terapêuticas. O estado de coerência reduz a atividade do neocórtex e ajuda conectar o cérebro reptiliano primitivo, relacionado com o sistema límbico, o nosso centro das emoções, com o chakra cardíaco.
A coerência cardíaca foi descrita pela primeira vez em 1992 pelo médico Dan Winter e tornou-se conhecida mais recentemente graças ao Instituto HeartMath®, em Boulder Creek, Califórnia, onde foram desenvolvidas pesquisas, técnicas e aplicações práticas com base nas descobertas. A prática se utilizam do conhecimento científico aliado à sabedoria milenar de técnicas usadas no Yoga como atenção plena, meditação e relaxamento, com o intuito de entrar em estado de coerência, promovendo um círculo virtuoso, bem-estar e saúde no indivíduo e nas pessoas ao redor. Isso porque o coração possui variações em seu campo eletromagnético, detectadas a metros de distância do corpo. Segundo Gregg Braden, um dos nomes mais destacados no estudo da relação ciência e espiritualidade, nosso coração é o mais forte gerador biológico de campos elétricos. Então o coração tem capacidade de gerar os mesmos campos dos quais as coisas do nosso mundo são feitas. Nosso cérebro também cria campos eletromagnéticos, mas eles são relativamente fracos, quando comparados ao do coração. Este é cerca de cem vezes mais forte eletricamente do que o cérebro humano. E o coração também é cerca de cinco mil vezes mais forte magneticamente do que o cérebro. Essas são as bases científicas que explicam como podemos criar um campo elétrico ou magnético que afeta nossa realidade, isso seria graças ao campo emanado do nosso coração em coerência.
As técnicas usadas ajudam nosso cérebro a criar uma imagem mental daquilo que gostaríamos de ver, de experienciar; uma vez que temos isso internamente, podemos sentir gratidão e apreciação pelo que está acontecendo na nossa mente. Ou seja, quando o coração se expressa, influencia a fisiologia de todo o nosso corpo, incluindo o cérebro, e ainda influencia nosso ambiente. Isso porque este campo é capaz de se expandir ao seu redos. Hoje, os aparelhos falam em alguns metros de distância do corpo, mas este campo provavelmente seja infinito, já que não obedece as leis de espaço e tempo. O que nos faltam são equipamentos capazes de medir algo assim. Portanto, existe um campo inteligente de energia que permeia nossa realidade e podemos entender como um campo de energia não convencional. Ele não funciona como eletricidade, então nunca tivemos equipamentos para medi-lo. Somente no fim dos anos 1990, início dos anos 2000, obtivemos tecnologia para medir partes dessas frequências. Mas isso só foi disseminado e aceito em artigos acadêmicos recentemente. Estamos apenas chegando ao lugar onde as tradições antigas começaram. É aí que ciência e espiritualidade podem servir uma à outra. A ciência está descobrindo tudo isso e traduzindo para uma linguagem compreensível, através da neurociência e física quântica, por exemplo. Já a espiritualidade pode nos dizer o que fazer com tudo isso. As mais antigas tradições espirituais começaram exatamente a partir deste ponto.
Coração- o órgão imperador
Esses conhecimentos também já era sabido pelos chineses, para a medicina tradicional chinesa, nós possuímos o que eles chamam de shen, que para nossa cultura seria o estado da nossa mente e espírito. E é o nosso coração que abriga o shen. Curiosamente, o nosso coração está ligado a nossa fala enquanto expressão do que se passa dentro de nós, não apenas na mente.
O shen envolve estados de ânimo e conteúdos espirituais. Portanto, ele é responsável por expressar ao mundo aquilo que reside dentro de nós, de nossa alma. Ainda, assim como o shen também é responsável por comunicar, ele também é o responsável pela nossa capacidade de perceber a comunicação quem vem do shen do outro. Em outras palavras, nosso shen, que reside em nosso coração, se expressa e se comunica com o shen de outras pessoas. E não seria essa a comunicação pelo coração que os chineses já sabiam a milênios?
Importante salientar que a fala enquanto emissão de som é uma qualidade pertencente ao pulmão; lembre-se de que para emitirmos som através da fala precisamos, também, de ar. Mas o dar sentido à fala, é coração. Por isso que para os chineses, uma fala confusa estaria relacionada, portanto, ao coração. Portanto, para uma boa comunicação, ou seja, uma boa fala enquanto expressão, precisamos estar em boa relação com o coração; e para uma boa expressão da fala enquanto voz, precisamos de uma boa expressão do pulmão, ou seja, para nos comunicarmos bem precisamos de coração e pulmões fortalecidos.
Esse conhecimento antigo aparentemente foi perdido no ocidente, mas ainda existem instruções e textos preservados no oriente. Talvez, a nossa ciência esteja recuperando esse atraso e isso nos colocará em uma dimensão muito maior enquanto seres humanos. Nossa consciência, nossas crenças, religiões, cultura, tudo isto esta constantemente influenciando nossos pensamentos e a realidade que vivemos. Nós fomos treinados a dar grande crédito aos nossos limites, ao invés pensar em nós mesmos como seres altamente capacitados. Independentemente de estarmos conscientes disso ou não, infelizmente, estas crença subconscientes, de que nós somos vítimas de circunstâncias, sem poder algum neste mundo, têm determinado nossa realidade.
Para curar nossos sofrimentos e dores, o mesmo princípio é válido. É preciso aprender a sentir amor pelos nossos sentimentos, aceitar tudo que estamos sentindo em nosso coração, nossas sensações de medos, raiva, frustração, inveja ou qualquer outra. Todas estas são apenas expressões de nossas camadas mais profundas. Se soubermos não julgar as emoções e apenas percebê-las, podemos gerar um nome a elas, nomea-las. Assim, a emoção gera um sentimento, que é quando sentimos o momento. Sentimento é a união entre pensamento e emoção. Acredito na curar de feridas emocionais através da aceitação, que é quando conseguirmos combinar o pensamento à emoção, unindo-os neste precioso lugar, bem no centro, em nossos corações. Isso faz cair por terra o que direcionou o pensamento humano desde o século XVII, através da máxima de Descartes, “cogito, ergo sum” – “penso, logo, existo”; talvez a máxima: “sinto, logo existo” faça mais sentido agora, afinal está tudo no coração.
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