A pedagogia Waldorf gera certa polêmica, muitos devem ter ouvido falar sobre uma suposta liberdade excessiva incentivada nas escolas, fazendo com que o preconceito exista. Meu objetivo não é defender ou levantar bandeiras, acredito no senso crítico adulto saudável e na capacidade humana de criar julgamentos saudáveis quando lhes são dadas informações suficientes e coerentes, de forma que ele consiga considerar todos os aspectos dos fatos. Assim, tratarei de explicar melhor a visão central e resumida desta pedagogia.
A pedagogia Waldorf nasceu no período que se seguiu após a Primeira Guerra Mundial. Em setembro de 1919 começou a funcionar a primeira escola Waldorf, em Stuttgart, Alemanha, com 12 docentes e 256 alunos. A escola foi concebida pelo austríaco, Rudolf Steiner, criador da Antroposofia, que foi chamado pelo diretor da fábrica de cigarros Waldorf/Astória, Emil Molt, que tinha o desejo de montar uma escola para os filhos dos funcionários da fábrica.
Até meados do século XX, outras 34 escolas Waldorf foram fundadas: na Alemanha, Suíça, Holanda, Inglaterra, Noruega e Suécia, na Hungria e na Áustria, assim como nos EUA. O movimento da Escola Waldorf consolidou-se e tornou-se um uma pedagogia amplamente praticada. Em alguns países, como Alemanha, Holanda e Escandinávia, as escolas Waldorf passaram a ser subsidiadas pelo estado, como escolas livres. Na maioria dos países, porém, os pais mantêm as escolas. Apesar da situação econômica nem sempre favorável, o movimento Waldorf cresceu. Em 1985, já havia 306 escolas em 23 países. As escolas Waldorf formam a rede independente de educação que cresce significativamente no mundo. E foi apontada pela UNESCO em 1994 como a pedagogia capaz de responder aos desafios educacionais, principalmente nas áreas de grandes diferenças culturais e conflitos sociais. Atualmente, existem mais de 1.100 escolas Waldorf/Steiner em 64 países e 1.857 jardins de infância Waldorf em mais de 70 países, além de associações Waldorf e centros de treinamento de professores para educadores e professores Waldorf em todo o mundo. (Dados: Federação escolas Waldorf do Brasil)
É neste contexto que começa a história de uma pedagogia tem enorme respeito pelas fases do desenvolvimento humano e o divide em três fases fundamentais: o primeiro setênio (dos 0 aos 7 anos, marcado pela troca dos dentes de leite), o segundo setênio (dos 7 aos 14 anos, marcado pelo início da puberdade) e o terceiro setênio (dos 14 aos 21 anos, marcado pelo amadurecimento dos órgãos sexuais e capacidade cognitiva). Entende-se que o desenvolvimento da fase posterior está intimamente relacionado à maneira com que a fase anterior foi vivida. Dessa forma, no primeiro setênio, a pedagogia visa desenvolver o corpo físico e sua vitalidade, fazendo com que a criança viva no corpo suas experiências. Pular corda, rolar, plantar, brincar, essas atividades escondem uma verdade muito profunda. Aquilo que foi aprendido por meio dessa vivência no corpo, especialmente em meio à natureza, na idade adequada será retomado ao aprender ciências, biologia, matemática, português, pois, de certa forma, estes aspectos já vivem na criança, e mais tarde ela apenas os marcará no cérebro por meio do intelecto.
Nesta pedagogia, a criança de primeiro setênio não recebe alfabetização precocemente. Espera-se o amadurecimento neurológico (que coincide normalmente com o fim do primeiro setênio, ou a troca de dentes de leite, sinal de que aquele corpo está preparado fisiologicamente para a tarefa). Durante a primeira infância, ela desenvolve sua motricidade, seus sentidos e sua relação com o mundo que a cerca. Um olhar atento nos permite perceber que a atividade motora bem desenvolvida no primeiro setênio, se converte em capacidade cognitiva no segundo setênio, que vai se harmonizar e criar a capacidade de julgamento no terceiro setênio, trazendo aquele antigo (mas tão atual) conceito que era usado para o lugar correto, o jovem, finalmente, “criar juízo”, a base para a vida adulta em sociedade.
Moral, ética, habilidades sociais não precisam ser ensinadas com discursos, porque são vividos nesse ambiente, principalmente nas relações. A criança é estimulada a errar, acertar, imitar – grandes estímulos para fortalecer o querer. O querer é o que move a Vontade (com V mesmo) do ser humano para suas realizações na vida e buscar seu propósito e lutar por seus ideais.
Para essa pedagogia, cada criança é vista em grupo e, ao mesmo tempo, em sua individualidade, tomando por base os quatro temperamentos: colérico, sanguíneo, fleumático e melancólico, baseados em Hipócrates. Isso determina como cada criança vivencia as mesmas experiências. Quando ainda são muito pequenos, esses temperamentos não estão evidenciados e pode-se olhá-la em dois grupos: crianças cósmicas e crianças terrenas. Cada grupo com características particulares que ajudam o educador a identificar o jeito de ser daquela criança, respeitando suas características, mesmo estando inserida dentro do grupo maior. Isso possibilita ao educador identificar potencialidades e desafios de cada uma delas e ajudá-las a se desenvolver de forma plena.
Na adolescência, além dos tipos constitucionais, são acrescentadas a visão de qualidades planetárias, ou seja, forças cósmicas que também atuam nas crianças e nos grupos. Isso é importante para o educador compreender ainda mais as características que fazem de cada jovem, um ser único. Além disso, isso evidencia que cada ser humano não é determinado por um comportamento isolado ou como uma faixa etária específica, somos constituídos por muitas nuances que formam nossa maneira de pensar, sentir e agir no mundo.
Para essa pedagogia, a conduta adequada, considerando o vir a ser da criança/jovem, e a potencialidade que ela guarda escondida dentro de si nos primeiros setênios é uma arte. Para desempenhá-la, o educador é exigido no nível intelectual, emocional e espiritual, fazendo da tarefa de educar uma educação de via dupla. Mas quando o educador tem êxito, pode experimentar o triunfo de ajudar a educar seres humanos em uma tripla potência: física, psíquica e espiritual. Nessa visão, o educador pode contribuir para curar uma criança (não apenas no âmbito físico, prevenindo possíveis tendências de males físicos, mas, também, emocionais na vida adulta). Tudo isso por meio de sua atenção àquele ser e amor à sua tarefa.
O objetivo dessa educação é formar seres que possam sentir, dar sentido ao que sentem pelo pensar e, assim, agir no mundo de forma espiritualizada. Se esta tarefa tiver êxito, ela terá cumprido, de fato, o seu papel: educar seres humanos em liberdade.
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