Utilizo a Medicina Tradicional Chinesa como base para meu pensamento sobre saúde física e mental. Minha entrada nesse universo se deu por uma especialização em Dietoterapia Chinesa e, principalmente pelo Coaching Holístico Shiou Hsing, uma ferramenta desenvolvida pelo médico e professor Dr. Jou Eel Jia da Escola Ch’an Tao. A técnica é baseada na milenar MTC (Medicina Tradicional Chinesa) e na moderna Neurociência. O trabalho é a construção do algoritmo mental que rege a vida de cada indivíduo, em posse desse mapa, ele pode direcioná-lo(a) com liberdade.
Para a aplicação desse coaching, leva-se em consideração a individualidade de cada ser humano, seu temperamento, chamados também de elementos (madeira, fogo, terra, metal e água). Segundo os chineses, todos os fenômenos do universo provêm do movimento desses cinco elementos, inclusive o próprio ser humano. Ainda, para Medicina Chinesa, corpo, mente e espírito não são vistos separadamente, e a saúde física e mental pode ser cuidada por qualquer um desses três. Segundo essa visão, cada elemento é responsável por uma emoção primária (madeira – raiva; fogo – excitação; terra – preocupação; metal – tristeza; água – medo) e apresenta um órgão e víscera de correspondência (madeira – fígado/vesícula biliar; fogo – coração/intestino delgado; terra – estômago/baço pâncreas; metal – pulmão/intestino grosso; água – rins/bexiga).
No entanto, é preciso compreender que esses movimentos não acontecem no nível físico e, sim, em níveis sutis. Eles influenciam nossas emoções e a forma como percebemos o mundo por meio dos nossos órgãos dos sentidos. Ainda, os movimentos são capazes de alterar nosso Shen (que pode ser entendido como nossa mente e quem o governa é o órgão do coração, regido pelo elemento fogo). Apesar de começar em níveis energéticos, tais movimentos são capazes de chegar em níveis físicos, ocasionando sintomas, doenças, modificando a fisiologia e vitalidade do ser humano. Assim, o coaching holístico se apresenta como uma ótima abordagem para promover a saúde do indivíduo. O conhecimento sobre os temperamentos e sua influência nos ajudam a compreender como o indivíduo interpreta o mundo, bem como suas pré-disposições para manifestação de doenças. Para a MTC, não há distinção entre corpo e mente, por isso a saúde pode ser buscada a partir de qualquer lado.
A neurociência, hoje, também já consegue abarcar esses conceitos. Todos nós possuímos dois hemisférios no cérebro: esquerdo e direito. O esquerdo, lógico, responsável pelo pensamento cognitivo, concreto e racional; nos primeiros anos de vida, esse hemisfério está em construção. Já o hemisfério direito, processa imagens e sensações, e está sendo utilizado desde o nascimento, guardando as vivências e sensações sob a forma de memórias implícitas. Segundo a neurociência, as estruturas cerebrais para processamento estariam maduras por volta de vinte e cinco anos de idade; inclusive, as competências necessárias para usar a Inteligência Emocional dependem desse amadurecimento.
Mas mesmo sem estar completamente pronto, desde o nascimento estamos vivenciando o mundo e o percebendo pelos nossos órgãos sensoriais. Nosso cérebro está sendo afetado de determinada forma (com maior ou menor intensidade, de acordo com a área de representação de cada parte do corpo, representada na figura do Homúnculo de Penfield) e fazendo marcações cerebrais de acordo com a intensidade dos impulsos elétricos gerados.
Desde o nascimento, estamos captando o mundo, permitindo que ele “entre” em nós através dos órgãos dos sentidos. É como se nascêssemos com todas as nossas “janelinhas” abertas e permeáveis a receber todo tipo de informação, sem filtros. Portanto, desde muito pequenos, recebemos muitas informações, só que não as codificamos, apenas as encaixamos dentro de três qualidades – prazer, desprazer e neutras – e guardamos em uma camada inconsciente. O que vivemos nos primeiros anos de vida estão guardados sob a forma de memórias implícitas, imagens mentais e crenças. Um fato curioso é que, desde muito pequenos, tendemos a querer repetir as sensações de prazer e evitar as sensações de desprazer.
Como se formam as personalidade
Aqui cabe uma ressalva importante: o que chamamos de emoção é o impulso elétrico gerado pela sensação. Todo o conteúdo percebido pelos órgãos dos sentidos ativa nosso cérebro, enviando sinais elétricos até o sistema nervoso central (SNC), passando pelo sistema límbico, nossa central das emoções, e chegando ao neocórtex, onde podemos fazer interpretação consciente das sensações.
O que acontece é que antes do neocórtex estar formado – isso acontece apenas na idade adulta- a criança/jovem é refém de suas emoções. Assim, quando vivencia qualquer experiência pelos órgãos dos sentidos, elas não chegam ao neocórtex, fazendo um caminho mais curto de resposta, ou seja, não passam pela consciência e trazem reações relacionadas aos instintos de proteção, relacionados à necessidade e sobrevivência. Isso estaria mais ligado ao cérebro reptiliano, o cérebro primitivo, uma herança ancestral que todos nós possuímos e que só atuará em equilíbrio à medida que o neocórtex amadurece.
O que comumente chamamos de sentimento já faz parte do conteúdo consciente, ou seja, é quando sentimos a emoção (impulso elétrico) e isso chega até o neocórtex e podemos nomear a sensação. Esta capacidade, portanto, necessita de um amadurecimento neurológico. Na infância, ao receber um impulso vindo de uma sensação, gera-se apenas uma decodificação simples: prazer, desprazer ou neutralidade, sendo que as sensações de prazer são aquelas que se deseja repetir, enquanto as de desprazer são evitadas.
Apesar de ser uma dinâmica da infância, é este o mecanismo que forma padrões de comportamento, na tentativa de repetir ou evitar tais sensações prazerosas ou desprazerosas; assim, adquirimos nossos traços e jeitos de ser, que mais tarde chamamos de personalidade. Mas isso está diretamente ligado ao temperamento de cada pessoa, ou seja, características herdadas de pai e mãe. O objetivo da formação de personalidade seria o de adequação ao nosso meio ambiente. Acontece que crescemos e continuamos a carregar traços de personalidade moldados na infância. Isso acontece porque essa habituação, de repetir e evitar sensações, modelam um sistema de operação da nossa mente; no coaching, chamamos isso de algoritmo mental ou mindsets. São os caminhos que nosso cérebro faz para vivenciar as emoções; são marcações de circuitos cerebrais habituados a um tipo de estímulo e, consequentemente, a uma resposta.
Daí a importância dos processos de autoconhecimento. Precisamos entender as bases que formaram nossa personalidade, ressignificar as emoções da infância e mostrar para o cérebro novos caminhos e meios de operar.
A relação entre saúde e consciência
Outro ponto importante de notar, conforme a figura abaixo, é que o Sistema Nervoso Autônomo (SNA) fica nessa zona da inconsciência, ou seja, nossas sensações, leia-se, emoções, acionam esse sistema sem que tenhamos consciência e estimulam ou freiam nossa fisiologia. Para se ter uma ideia, o SNA é responsável pelos batimentos cardíacos, fluxo respiratório, peristaltismo, secreção de suco gástrico e toda musculatura lisa do nosso corpo, encontrados dentro dos órgãos ocos e que funciona de forma involuntária, ou seja, sem o nosso comando. Essa informação é extremamente relevante para compreensão de que nossas emoções estão influenciando diretamente a nossa saúde e que isso não passa pela consciência.
Isso sem contar nos padrões transgeracionais; mesmo antes do nascimento, carregamos uma memória celular, herdada de nossos pais (e estes herdaram de seus e assim por diante). De certa forma, isso nos faz chegar ao mundo carregando informações de gerações anteriores. Importante salientar que não me refiro a material genético apenas, mas também às informações transmitidas pelos campos morfogênicos, os campos que carregam informações vindas dos hábitos e que não obedecem às leis do tempo e do espaço.
O que a medicina chinesa nos conta é que a maneira como cada indivíduo percebe as mesmas sensações varia de acordo com seu temperamento, isso explica por que dois irmãos gêmeos têm vivências internas diferentes das mesmas situações. No processo, rastreamos da biografia, ao longo dos setênios, buscando as emoções primordiais da vida do indivíduo, quando apenas estávamos completamente receptivos ao nosso ambiente, mas não codificávamos as vivências, ficando apenas com sensações sem nomeá-las. No processo, usamos a roda da vida para percorrer as diversas esferas pessoais, profissionais, sociais, relacionais, em busca da origem das crenças que carregamos naquela área. Agora, como adultos, somos capazes de sentir novamente as sensações e dar-lhes um nome, o que a criança não podia. Nessa dinâmica, o conteúdo que estava alocado como imagem e sensação (inconsciente) ganha um nome e submerge para a consciência. Nesse processo, ganhamos controle e podemos ressignificar vivências e crenças.
Por isso, o Coaching Holístico representa uma base para qualquer processo de transformação que se queira fazer em qualquer área da vida. Diferente do coaching ocidental, esse processo busca trazer consciência às sensações que foram nos construindo ao longo da nossa vida. Usamos a consciência como forma de energia transformadora e criação de novos mindsets.
O que são crenças ou mindsets?
São padrões que a mente cria para interpretar a realidade. Esses padrões são formados ainda na fase de desenvolvimento infantil, mas permanecem atuantes na mente de todo adulto. Muitas vezes, elas se manifestam na forma de sabotadores, diálogos internos ruminantes, falta de confiança, procrastinação, baixa estima e padrões limitantes que impedem uma vida plena.
Por que é difícil sair da chamada “zona de conforto”?
O nome não condiz com a realidade, sabemos que a zona de conforto é bastante desconfortável. Mas, então, por que repetimos os mesmos padrões, mesmo quando não queremos viver a vida de uma determinada forma?
A resposta está na explicação sobre os circuitos formados na infância. O cérebro desenvolveu um caminho, um algoritmo mental para gerar respostas as sensações de parzer e desprazer que recebia. Trata-se de um circuito que não necessita mais passar pela consciência para acontecer. Mesmo que agora, adultos, tenhamos consciência disso, o cérebro tende a usar o caminho mais conhecido, porque aprendeu a lidar com os desconfortos gerados.
Imagine uma mata onde foi trilhado um caminho único milhares de vezes. Em volta, mesmo podendo ser via de acesso, não existe uma rota pré-determinada. No caso de uma trilha muito marcada, é como se pudéssemos caminhar de olhos fechados por ali; não preciso correr novos riscos, calcular tempo, distância. Você já aprendeu o tempo e a distância que precisa percorrer diariamente para chegar a determinado destino. O mesmo acontece com os padrões comportamentais; reagimos da forma como estamos habituados, porque conhecemos os riscos. Assim, apenas querer mudar não basta. É preciso conhecer o antigo circuito e, por meio da autodeterminação, começar a trilhar um caminho novo. Nas primeiras vezes, isso pode ser difícil, o cérebro tende a querer fazer o caminho já conhecido, mesmo que seja mais longo. No entanto, aos poucos, à medida que repetimos o novo caminho, o cérebro começa a entender que pode facilitar a vida.
Todo processo de mudança exige duas coisas: humildade, para reconhecer que precisa mudar, e coragem, para dar o primeiro passo, mesmo sabendo que perderá algumas regalias. Mas o ganho está na liberdade e no privilégio de descobrir novas paisagens.
Comente, queremos ouvir você.
Acreditamos que a troca é fundamental para evolução da nossa consciência.
O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *