POR CAMILA CAPEL
O sono regula a homeostase do organismo, ou seja, o equilíbrio das funções vitais corporais. O sono inadequado pode ser responsável por fatores de risco para a saúde, como hipertensão, aumento de peso, aumento das probabilidades de gripes e infecções, devido a sua relação com o sistema imunológico. Olhando para tais doenças, que aumentam mais a cada dia nos Estados Unidos, o país inaugura uma nova área de saúde : LifeStyle Medicine (Medicina do Estilo de Vida). Essa medicina visa cuidar do indivíduo durante toda a vida, para que suas chances de adoecimento no futuro sejam menores. E ela coloca a higiene do sono como um dos pilares essenciais para a saúde. Para ajudar nesse movimento, há alto investimento em pesquisa sobre fatores e hábitos do estilo de vida que influenciam na saúde. Dentre elas, a importância do sono.
Sabe-se que alterações no ciclo circadiano provocam alterações no sono. O ciclo circadiano é nosso relógio biológico e está diretamente ligado à iluminação do ambiente, o escuro envia sinais para a glândula pineal, no cérebro, e ela secreta melatonina, hormônio derivado da serotonina, que modula o padrão do sono. A melatonina sinaliza para o corpo que é noite e o indivíduo tem sono. Mas é preciso também estar atento a outros fatores que determinam este sinal do sono, como os eletrônicos, cuja luz azul informa ao cérebro que ainda não é hora de desligar suas funções, fazendo com que a pessoa perca o sono quando exposta a elas.
A melatonina sintética vem sendo largamente consumida para estimular o sono, inclusive por crianças, que fisiologicamente não apresentam diminuição nos níveis de melatonina, como no caso dos idosos, por exemplo, onde a diminuição do hormônio leva a menor necessidade de dormir. Não existem estudos suficientes sobre o impacto de seu uso a longo prazo. Um artigo publicado pelo Journal of Clinical Sleep Medicine em 2019 aponta o crescimento da oferta de marcas de melatonina nas farmácias americanas, onde a venda é livre. O estudo analisou 30 marcas do suplemento e apurou uma quantidade maior de miligramas de melatonina do que era declarado no rótulo, e apontou que, em 26% das marcas, a serotonina estava presente sem que isso estivesse informado ao consumidor.
Estima-se que a glândula pineal libere mais ou menos 0,1 mg de melatonina, enquanto os comprimidos consumidos chegam a 3 mg. É preciso repensar o uso da melatonina sintética nas crianças, porque ela é um hormônio naturalmente secretado em quantidades suficientes na infância. Também se deve pensar nos riscos de seu uso prolongado, além de considerar a falta de informações sobre a adição de outras substâncias nas fórmulas.
Segundo a Medicina do Estilo de Vida, a maioria dos indivíduos não foi educada para o sono, por isso, a população mundial sofre com problemas nesta área vital. É preciso tornar a higiene do sono parte da educação das crianças. Hábitos criados ainda na infância podem ajudar as pessoas a levá-los para a vida adulta
Melatonina para crianças autistas
Estudos indicam benefícios do uso da substância por crianças autistas com dificuldades de dormir. A pesquisa publicada pela revista científica Journal of American Academy of Child & Adolescent Psychiatry foi feita com 125 crianças autistas e mostrou que a melatonina as ajudou a dormir em comparação às crianças que fizeram uso do placebo. Não há dúvidas sobre seus efeitos, porém são precisos critérios rigorosos para sua prescrição, de modo que seu uso se faça somente em casos onde os benefícios realmente sejam maiores do que os riscos.
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