Nos encontros da vida, temos a oportunidade de ir em direção a nós mesmos, porque as relações humanas sempre produzem algo em nós: às vezes, sentimentos bons, de prazer e de alegria; outras, sentimentos dos quais até nos envergonhamos de sentir de tão ruins que nos fazem sentir. Nos encontros verdadeiros, nos colocamos com interesse para o outro, oferecemos nossa atenção e o outro recebe nossa ação, a de estar presente. Quando fazemos isso, chegamos mais perto da alma do outro. Com a criança devemos ter isso em mente, de que temos que ir ao encontro dela, inteiramente presentes, em uma atitude aberta e de total receptividade.
Nada é mais fundamental do que o encontro a dois que acontece entre mãe e filho. Este primeiro encontro é o modelo de relação que a criança levará para as suas relações na vida adulta. No livro Crianças brincando! Quem as educa? (Lameirão, Luiza Helena Tannuri -São Paulo- João de Barro) Lameirão expressa belamente este momento. “O bebê, quando vive em um ambiente calmo, ouve seus próprios ruídos, uma vivência que possibilita o processo de aprendizado da fala. Ele capta a melodia, o tom da voz humana que o cerca, mesmo antes de compreender a linguagem. Nossa voz é como nossa impressão digital. Cada tonalidade de voz revela o ser individual e sua vida interior ‒ medo, alegria, tristeza, raiva ‒ tudo isso pode ser percebido na voz. A sonoridade é apreendida com intensidade porque se vincula a sentimentos. Interesse, escuta, disposição… presença. É disso que a criança precisa: alguém que se abra para escutá-la, que lhe dê sua atenção. Neste ambiente, a criança pode se expressar com tranquilidade e entrega”
A primeira voz humana que reconhecemos desperta em nós o interesse pelo entorno. Se a pessoa desta voz nos escuta com interesse (inter– “entre” e assere, “ser”), a criança aprende a se relacionar com o outro da mesma forma, assumindo uma postura aberta. Ela, naturalmente, já carrega tal tendência, e cabe ao adulto cultivar esta qualidade humana tão nobre. Para terminar, trago as palavras de Jacques Lusseyran. O autor, além de cego desde os 7 anos, engajou-se corajosamente no movimento da Resistência Francesa durante a 2º Guerra Mundial, tornando-se um de seus líderes por conseguir identificar a intenção e a veracidade de cada pessoa por sua voz.
“… aqui termina minha história, como tem de ser, pois o homem que sou agora ‒ marido, pai, professor, autor ‒ não tem a intenção de falar de si mesmo. Se ele registrou os primeiros vinte anos de sua vida com tantos detalhes, é por acreditar que estes não mais lhe pertencem como indivíduo, e sim são um livro aberto, disponível a todos. Seu caro desejo era demonstrar, mesmo apenas parcialmente, quanta vida, luz e alegria esses anos encerram, pela graça de Deus”
Jacques Lusseyran
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