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A influência do ambiente na formação da criança
Por Camila Cassia Capel
#Antroposofia #Parentalidade
O corpo da criança representa seu centro; a partir das vivências com ele, a criança ganha habilidades e orientações espaciais, ampliando o espaço e gerando, inclusive, calma interior. Essas vivências no primeiro setênio são fundamentais, só assim a criança será capaz de se concentrar em alguma tarefa que exija concentração mais tarde. Curiosamente, para aprender a ficar quieta, a criança precisa de muito, mas muito movimento na infância e este processo é uma construção gradual onde o brincar será o grande protagonista.
O brincar necessita de algumas condições para ocorrer e são os adultos quem fornecem esses elementos à criança. Quanto menor a criança, mais aconchegante deve ser o ambiente. Afinal, para quem acaba de sair de um útero apertadinho e com paredes bem delimitadas, um ambiente amplo demais pode ser hostil.
Dessa forma, o espaço deve permitir que a criança se movimente de acordo com sua idade. Os limites não são apenas físicos, a maneira como utilizamos o espaço e a quantidade de brinquedos são essenciais para que a criança possa entrar em contato consigo mesma.
O espaço do brincar também pode ser muito educativo para cidadania. Podemos começar a ensinar sobre sustentabilidade às crianças dando preferências a brinquedos feitos com elementos da natureza como lã, seda, algodão, madeira, pedras, entre outros materiais. Esses materiais não vêm prontos e, exatamente por isso, oferecem a ela a oportunidade de criar, colocando um pouco de si para transformar matéria-prima em objetos que sua imaginação quiser.
Objetos quebrados, brinquedos mal cuidados não representam boa referência para a idade infantil, Além de estarem formando senso estético a partir de tais referências, o cuidado com as coisas está contando sobre gestos humanos referenciais para sua formação. Mas não se trata de jogar fora o que está quebrado, afinal, desperdício também demonstra falta de cuidado. Por isso, cuidar da maneira como fazemos o descarte das coisas pode ensinar sobre aproveitamento. Também, quando consertamos algo e reutilizamos, estamos trazendo a ideia de que as coisas podem ser recuperadas. A organização é importante, organizar os materiais em cestos separados facilita para que a criança processe as informações e se organize para começar a sua fantasia. Limpeza também é importante, mas não garante o essencial de um ambiente, o calor.
O calor expande, transforma, aquece, ele simplesmente nos envolve. O calor vem do sol, da comida que cai na barriga, dos relacionamentos e do entusiasmo. Entusiasmo que o adulto pode mostrar por meio do amor pela tarefa de cuidar da casa, cozinhar e, principalmente, por cuidar da criança. Este calor faz de qualquer ambiente um local aconchegante.
A criança precisa de tempo para decidir do que deseja brincar, onde quer chegar, para experimentar, errar e acertar. A pressa do cotidiano e as agendas infantis carregadas de atividades tornam as crianças em pequenos executivos, restando pouco tempo para a atividade mais importante dessa fase: brincar.
Também estão sendo exigidos conhecimentos e habilidades precoces em detrimento da aceleração do desenvolvimento infantil, o que pode se converter em sintomas como ansiedade, medo e insegurança.
A relação com a natureza faz parte do brincar e muitos perguntam se é necessário um grande espaço para isso, pois há um número cada vez maior de famílias vivendo em apartamentos. Para esta resposta, uso o depoimento que ouvi de uma educadora em entrevista à Mercúrio Antroposofia. Ela falava sobre uma criança que se relacionava com a natureza olhando o céu de seu apartamento sem varanda. Os dias chuvosos, de sol, a alternância da luz que incidia na sala, todos esses elementos eram trazidos à atenção e valorizados pela mãe, criando nesta menina uma relação tão próxima com o céu quanto a uma criança que vive no campo. É esta simplicidade que precisamos buscar com nossas crianças. O adulto que se dispõe com amor e entusiasmo terá a sensibilidade de enxergar o que sua criança precisa.
Cada criança é única e carrega consigo algo que precisa ser ativado. Portanto, o adulto que se coloca neste caminho, com a disposição de alma, saberá encontrar aquilo que precisa oferecer.
Referência bibliográfica
LAMEIRÃO, Luiza. Criança Brincando! Quem a educa? Ed. João de Barro