Em um primeiro momento parece impossível relacionar pautas tão distintas dentro de um pensamento. Mas quando colocamos um olhar atencioso sobre o tema e observamos o fenômeno, as relações começam a se revelar.
Sustentabilidade: a palavra ganhou popularidade no final do século XX, quando as preocupações com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável se tornaram mais proeminentes. Mas a etimologia da palavra está relacionada com o verbo latino “sustinere”, que significa “suportar” ou “manter”. Sustentabilidade – Sus, “abaixo” ou “por baixo”/ tenere,”segurar” ou “manter” – é um termo que se refere à capacidade de manter, equilibrar ou preservar algo ao longo do tempo, de modo a satisfazer as necessidades atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades.
Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) em seu Guia de Sustentabilidade para as Empresas, em termos econômicos, sustentabilidade significa viver da “renda” proporcionada pelo planeta e não do seu “capital”, o chamado capital natural. Toda atividade econômica depende desse capital. O capital natural é responsável pela provisão dos serviços ambientais, isto é, os benefícios que os seres humanos obtêm da natureza produzidos por interações nos ecossistemas, tais como: produção de oxigênio, sequestro de carbono, formação dos solos, provisão de água, madeira e fibras, regulação do clima, valores estéticos, espirituais e de lazer. Muitos desses serviços são essenciais aos seres humanos. Do ponto de vista do resultado econômico-financeiro, parte-se do princípio de que quanto mais consistente e amplo for o entendimento da dinâmica dos atores e sistemas que afetam a empresa, maiores as chances de manter-se lucrativa e em operação, ou seja, ser viável economicamente.
De maneira geral, portanto, entende-se que no universo corporativo a sustentabilidade refere-se à prática de conduzir negócios de maneira responsável, levando em consideração não apenas os lucros financeiros, mas também os impactos sociais e ambientais das operações da empresa. Quando a empresa adota uma postura sustentável, significa que está cuidando para que as atitudes empresariais sejam equilibradas e benéficas ao longo do tempo, tanto para a empresa quanto para a sociedade e para o meio ambiente. Na prática das empresas, a sustentabilidade exige a busca por práticas e estratégias que considerem o impacto social, econômico e ambiental a longo prazo. E esse caminho acaba passando por todos os níveis de uma organização:
- Ações como doações para causas sociais, envolvimento em projetos comunitários e apoio a iniciativas educacionais;
- Práticas para redução ou minimização dos impactos da emissão de poluentes. Por exemplo, investir em tecnologias mais limpas, mudando a distribuição dos recursos;
- Reduzir o desperdício e otimizar processos para minimizar o impacto ambiental. Lembrando que mexer em processos significa mexer no campo vital da empresa;
- Investimento na criação de produtos mais duráveis, recicláveis ou que promovam a economia de recursos. Isso significa mudar estratégias e investir em novas tecnologias, o que também gera custos;
- Garantir que seus fornecedores adotem práticas éticas e ambientalmente responsáveis, fazendo com que a decisão individual de uma empresa toque no coletivo;
- Transparência sobre suas práticas e desempenho em relação à sustentabilidade. Por exemplo, divulgando informações sobre emissões de carbono, uso de recursos e iniciativas sociais. A empresa sustentável se comunica mais;
- Promover uma cultura interna de valorização à sustentabilidade, motivando equipes e fazendo com que essa postura sustentável faça parte do âmbito das relações humanas dentro da empresa.
Importante ter em mente que mesmo não sendo o único objetivo da empresa, aquelas que adotam práticas sustentáveis podem colher benefícios financeiros a longo prazo, com redução de custos operacionais, atração de investidores também comprometidos com a sustentabilidade e fortalecimento de posicionamento e reputação da marca. Isso significa que a sustentabilidade no universo corporativo não apenas contribui para um planeta mais saudável, mas também ajuda a construir uma base sólida para o sucesso contínuo da empresa. Ainda, na mesma cartilha do IBGC: situações envolvendo a sustentabilidade se refletirão, mais cedo ou mais tarde, nas demonstrações contábeis, no valor econômico e no valor de mercado da empresa.
Ainda que não seja meu objetivo entrar em cada aspecto mencionado, fiz questão de elencar as diversas áreas e impactos do tema da sustentabilidade nas organizações para fazer saltar aos olhos o quanto essa atitude exige mexer em diversas camadas que compõem uma empresa. Na visão da empresa como um organismo quadrimembrado, segundo a visão antroposófica, falamos dos quatro níveis qualitativos na empresa: o corpo da empresa, nível físico; processos, nível vital; relações entre pessoas que a compõem, nível anímico; o propósito dela, o nível espiritual. Mas se pensarmos mais detalhadamente, em todos os níveis, o fator humano é preponderante para o sucesso. Como pesquisadora do ser humano e facilitadora de processos de autodesenvolvimento, não consigo pensar em sustentabilidade sem pensar em pessoas e em como elas irão gerir negócios que se proponham a ser sustentáveis. O caminho de conhecer a si próprio ainda é, ao meu ver, o melhor, se não único, meio para desenvolver um ser humano. Isso porque, para falarmos de saúde, precisamos incluir aspectos físicos e emocionais; uma pessoa com deficiência em uma dessas duas, certamente, apresentará performance mais baixa. Desde uma dor de cabeça, passando por uma doença, ansiedade, oscilações de humor ou até uma crise de burnout, tudo está afetando a qualidade e rendimento de pessoas que compõem uma organização. Afinal, quem, por algum motivo físico ou emocional, não se sente bem em habitar seu próprio corpo, pouco poderá se preocupar com o corpo da empresa.
Falando em pessoas, em um universo corporativo cada vez mais ocupado pelas mulheres, o bem-estar, dificilmente, estará apartado do tema maternidade. Seres humanos que optam por serem mães precisam de um duplo olhar em seu cuidado. Nesse momento, surge o tema da educação parental dentro das empresas. Mas vou além, incluo também os pais nessa conta, afinal, a paternidade é tão importante quanto a maternidade. Homens e mulheres que, também, são pais e mães, necessitam ter suas necessidades emocionais, inerentes a essa tarefa, cuidadas. E aqui entra mais um conceito, parentalidade.
Parentalidade – palavra que deriva do termo original em inglês, “parenting” – e refere-se a um conceito que vem sendo utilizado para descrever o conjunto de atividades desempenhadas pelos adultos de referência da criança no seu papel de assegurar a sua sobrevivência e o seu desenvolvimento pleno. Isso significa que neste momento, seu funcionário, além de estar preocupado em render na empresa, em fazê-la gerar lucros e ser sustentável, está, ao mesmo tempo, cuidando da sustentabilidade de sua família, por meio da educação que está dando aos seus filhos. E, se você, gestor, empreendedor da empresa é pai/mãe, sabe que as fases do desenvolvimento infantil contam com desafios inerentes e específicos em cada etapa. A decisão de ser pai/mãe, dificuldade de engravidar, a licença à maternidade, puerpério, a dupla jornada, a separação entre mãe e bebê, problemas de saúde, questões comportamentais, desafios da adolescência, dificuldades na escola, questões emocionais da juventude, separações dos pais, a lista de quem tem filhos pode ser interminável.
Mas é preciso ir além, ainda que membros de equipes não tenham filhos, eles são filhos de alguém e toda sua maneira de pensar e agir na empresa está enraizada em seu sistema de crenças, que é construído em seus primeiros anos de vida, especialmente nos sete primeiro. Nessa afirmação pode estar a resposta do porquê é tão difícil mudar processos em uma empresa. Ainda, por que não conseguimos fazer com que nossas ideias sejam aceitas como verdade para outros? Por que não é tão fácil resolver conflitos aparentemente simples? Perguntas como estas podem ter sua resposta na relação pais e filhos. Pense que seu mapa mental foi formado em outro território e que você aprendeu sobre o mundo sob crenças e valores, muitas vezes, opostas às dos membros de sua equipe. Por isso, quando imaginei a Parentalidade Essencial, não estava desenvolvendo um modelo de educação para pais educarem filhos, mas sim, para qualquer ser humano que é filho de alguém. Porque a maioria, ou todas, nossas questões relacionais estão intrinsecamente ligadas às relações afetivas primordiais, ou seja, com nossos pais.
No meu entendimento, o trabalho de autodesenvolvimento humano, essencial para o desenvolvimento de empresas, passa por saber de onde viemos, sob qual cultura, quais condições financeiras, ambiente físico, emocional e, principalmente, quais crenças aprendemos como absolutas e que, muitas vezes, impedem-nos de seguir caminhos sustentáveis para nossas próprias vidas. A educação dos filhos é, de fato, um grande tema na vida de todos pais e mães dentro de uma organização. Mas se pudermos ampliar nossa perspectiva, veremos que, entender de onde cada ser humano que a compõe veio, veremos que cuidar das relações parentais – entre pais e filhos ou entre filhos adultos e seus próprios pais – é, sem dúvida, o caminho mais profundo para se chegar a uma mudança nas mentes dos membros da empresa. Transformar mindsets, isso sim, pode mudar o mecanismo empresarial operado por seres humanos.
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