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19. A teimosia chegou, e agora?

Tempo de leitura: 4 min

Uma escrita, muitas formas de consumi-la.

19. A teimosia chegou, e agora?

Como lidar com essa fase da criança e diminuir os conflitos entre pais e filhos.

A primeira fase do desenvolvimento infantil, momento em que são construídas as estruturas básicas do andar, falar e pensar, encerra-se no terceiro ano de vida. É quando tem início o período da teimosia; Adolf Busemann, psicólogo alemão, caracteriza como fase de excitação, em que o sentimento e o querer determinam o comportamento da criança. O bebê frágil e inocente cede lugar a uma criança que se impõe, momento no qual os pais tentam exercer sua autoridade, o que gera conflitos frequentes.  

Nessa fase dos três anos, a criança é uma novidade para si mesma, seus sentimentos e quereres lhe são inéditos; seu pensar não se distanciou o suficiente, gerando um conflito interior. A teimosia e as birras são consequências do nascimento do eu, e a criança precisará testar suas barreiras, diferenciando-se do outro, nesse movimento, a busca por limites será seu norte. Rudolf Steiner diz o seguinte: “…nos primeiros anos de existência, o que chamamos de “aura infantil ”circunda a criança, ela é a parte propriamente superior do homem; e no momento mais remoto que a memória humana atinge, ela se retrai, penetrando mais profundamente no íntimo do homem. A partir deste momento os elementos anteriormente ligados aos mundos superiores se integraram então ao seu eu. Desse momento em diante a consciência se põe em contato com o mundo exterior”.

Até o terceiro ano a criança espera que seu meio ambiente supra suas necessidades, e ela aceita o mundo conforme lhe é oferecido. Podemos dizer que durante os dois primeiros anos de vida, ela tem um comportamento primariamente “simpático”, normalmente apresenta plena confiança no outro e raramente sente mal-estar perante estranhos. A simpatia as faz “dormir para dentro “da outra pessoa.  Mas o surgimento do pensamento, por volta do terceiro ano, traz uma nova percepção: a criança desperta para os pensamentos que lhe são transmitidos pelas palavras de outras pessoas. Rudolf Steiner caracteriza isso  “O sentido do eu, não é o sentido para o próprio eu, mas para a percepção do eu de outrem…estar diante de outra pessoa e esta lhe revelar seu eu”.

No terceiro ano, a primeira consciência do eu desponta e carrega consigo a pergunta: “Quem sou eu?”. Aquilo que a criança conseguir extrair de seus relacionamentos será o substrato para esta resposta. Na busca por sua identidade, ela precisa constantemente  se recordar de onde ela termina e o outro começa. Até então, a criança e a mãe eram uma unidade da qual ela extraía tudo sem questionar, recebendo com simpatia. Agora, ela encontra uma cerca espinhosa a separando do mundo, e que precisa ser transpassada. Em sua luta interna entre a simpatia e sua recém-descoberta antipatia, reside a dúvida: até onde o outro é o outro, e até onde o outro sou eu?. E nesta luta, sua teimosia, sua recusa e contestação esperam, exatamente, encontrar a resposta negativa vinda do outro, porque quando ela recebe a negativa, ela esbarra nele. E é desta percepção, a do outro, que ela retira os substratos para ver a si mesma. Deste encontro, vindos dos embates, ela reforça sua individualidade.

Este é um momento dramático, de profunda contestação e despontar de sua individualidade, por isso é também um dos mais belos. Se os pais se comprometerem com esta fase, ela durará até por volta dos 4 anos, quando a criança terá estruturas neurológicas suficientes para lidar com as questões emocionais, também a independência corpórea lhe trará mais segurança. O exemplo, ajuda, compreensão e a conduta leve são os comportamentos mais indicados.

Referências bibliográficas

KÖNIG, Karl. Os três primeiros anos da criança. São Paulo: Antroposófica.

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