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11. A visão timembrada do ser humano

Tempo de leitura: 6 min

Uma escrita, muitas formas de consumi-la.

11. A visão timembrada do ser humano

A visão trimembrada do ser humano nos traz a ideia de que o homem possui, na região abaixo do diafragma, sua parte metabólica-motora; ou seja, nesta região irradia calor, existe constante movimento através dos processos metabólicos e da própria ação motora. Nesta região também está a capacidade de gerar vida. Ali, são criadas substâncias como suco gástrico, secreções e também existe uma grande circulação de sangue. É uma região caracterizada por órgãos e tecidos moles. Nesta região, encontra- se a atividade de expansão do homem, local que gera calor e substâncias que expandem para outras partes do corpo. Podemos dizer que somos menos conscientes nesta região. Por exemplo, não temos consciência do nosso processo digestivo e dos órgãos envolvidos nele, quando percebemos um órgão desta região, é sinal de algum problema, como uma dor. Isso porque o que acontece ali, é feito de forma autônoma, ou seja, os processos relativos à nossa área metabólica funcionam a partir de comandos cerebrais que não passam pela nossa consciência.

Já na polaridade oposta, temos a cabeça, onde se localiza nossa região neurossensorial, pense nela como uma caixa fechada e que, do ponto de vista motor, é parada. Ela recebe as informações e as concentra. Podemos fazer uma analogia de que lá se encontra a contração do homem. Também é uma região dura e fria; neste sentido, parecendo uma área morta. Mas, em contrapartida, esa região é a que nos permite ter consciência. De certa forma, poderíamos relacionar a consciência com um local de menos vitalidade ou, indo além, podemos pensar que para se ter consciência, é preciso morrer algo em nós. 


E em nosso centro fica a região cardiorrespiratória, onde o ar inalado é recebido e acontece toda purificação dele e do sangue, que alimenta todo o corpo. Esta região é caracterizada pela mistura de partes moles, como músculos e duros, como as costelas, que formam esta caixa que protege os dois órgãos relacionados ao ritmo cardiorrespiratório, pulmão e coração. Seguindo a linha de raciocínio, de que em nossas partes mais moles encontra-se tudo aquilo relacionado à vida e à inconsciência, e que as partes mais duras estão relacionadas com aquilo que está mais morto e com os processos de consciência, podemos dizer que em nosso centro acontece o encontro de vida e da morte. E qual o exemplo máximo de constante vida e morte em nosso corpo senão a nossa respiração? Ao nascer, o ar invade nossos pulmões, expandindo brutalmente os alvéolos, motivo do imenso choro de dor por parte bebê; ao morrer, poeticamente, é comum dizer que damos o último suspiro. No intervalo desta grande respiração estão nossos anos de vida, com seu constante nascer e morrer que acontece em cada inspiração e expiração. 

Esta visão, finalmente, nos traz a visão do homem como aquele que alterna polaridades e encontra o equilíbrio exatamente no centro, no coração. O homem equilibrado derivaria de um agir no mundo a partir do querer, ou seja, de uma vontade que o faz agir (sistema metabólico-motor- polo inferior). Este querer vem de um pensar (sistema neurossensorial- polo superior) e o equilíbrio entre ambos encontramos no sentir (sistema cardiorrespiratório- centro). Na visão antroposófica, o ser humano leva 21 anos para chegar nesse centro, e  cada setênio, desde o nascimento, é dedicado para desenvolver cada uma destas três regiões.

Mas essa visão não é exclusivamente antroposófica, para a Medicina tradicional Chinesa,  o coração tem ligação direta com a mente, nosso Shen. Já os estudos da neurociência, também apontam para esta ligação. Nossos órgãos sensoriais recebem estímulos externos, atuando diretamente no nosso sistema límbico, ligado às emoções e às nossas memórias. Se as sensações forem de medo, por exemplo, nosso cérebro passa a operar sob este comando e, neste caso, o cortisol passa a circular em todo organismo. Quando vivemos constantemente neste estado, o cortisol derruba nosso sistema imunológico, gera stress, ansiedade, dentre outros problemas, o que nos leva a viver mais sob este estímulo, retroalimentando o circuito e se tornando um círculo vicioso. Essa seria uma das causas para que nosso organismo, ou seja, nosso ambiente interno, se torne mais permeável para invasão de agentes patogênicos. Na mesma via, quando experimentamos gratidão, equanimidade e sentimentos relacionados ao amor, nosso sistema é ativado com estas emoções e nosso cérebro passa a operar a partir de outros neurotransmissores relacionados a estas sensações, como serotonina, dopamina e ocitocina.  Assim, como o excesso de cortisol nos leva a um círculo vicioso, estes neurotransmissores de bem-estar nos levam a um circulo virtuoso, aumentando a imunidade e melhorando a saúde em todos sentidos. Fica fácil entender a ligação do coração, ou seja, do nosso sentir, com o nosso cérebro e nossa mente, e como agimos no mundo de acordo com isso.

Esta visão ajuda a entender o ser humano de forma tríplice. O desenvolvimento fído corpo demora três setênios para se completar e acontece de forma crânio caudal, ou seja, da cabeça em direção aos membros. A criança, no primeiro setênio, tem um grande desenvolvimento do sistema neurossensorial, passa pelo cardiorrespiratório no segundo setênio e, no terceiro setênio, é a vez do sistema metabólico motor. Porém, sua consciência se desenvolve de forma oposta, do polo inferior para o superior.  Isso significa que enquanto no primeiro setênio seu sistema neurossensorial está em máxima atividade, sua consciência encontra-se no metabólico motor, ou seja, no seu agir e movimento. No segundo setênio, corpo e consciência estão no centro; o sistema cardiorrespiratório precisa chegar ao ritmo normal de um adulto, que é de 1:4, ou seja, a cada incursão respiratória, leva-se quatro batidas do coração. A relação entre corações e pulmões pode ser expressa por um quociente. A razão entre frequência respiratória e frequência cardíaca é de um para quatro em adultos saudáveis, em repouso. Finalmente, no terceiro setênio, seu corpo está em pleno desenvolvimento da atividade metabólica, a maturação dos órgãos sexuais já está completa, o jovem já não é mais o adolescente estabanado que fora aos 13 anos. Agora, suas forças de consciência estão voltadas para o pensar, o jovem busca, questiona, contesta, quer seu espaço e precisa do seu corpo pleno para buscar seus ideais. E esse agir no mundo que o jovem idealizador busca, encontrará sentido através do seu sentir. Para que isso aconteça, a base dos três primeiros setênios serão essenciais.

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