O Outono chegou, tempo em que a natureza se fecha em si mesma, recolhe-se para uma pausa e revigora suas forças.
Para a Medicina Chinesa, cada estação está relacionada a um órgão e a uma víscera. No outono, o órgão e a víscera são o intestino grosso. Além disso, associamos a época a um elemento, assim, chegou a vez do metal, com sua capacidade de se contrair e enrijecer.
Ele é responsável pelo sistema imune e linfático. Pela relação com a imunidade, alguns cuidados são importantes para esse período. Em especial, devemos evitar a secura e o frio, já que os pulmões sofrem com ambos.
Mas, falando sobre imunidade, a nossa pele, órgão diretamente associado ao pulmão, é a primeira linha de defesa do corpo. Quando nos alimentamos corretamente e nosso pulmão está fazendo sua função, gera-se uma energia de defesa em volta do corpo, uma barreira, que, na Medicina Chinesa, é chamada de WeiQui e que corre pelos canais dos meridianos que envolvem todo o corpo, atuando inclusive na musculatura. O WeiQi forma uma barreira protetora para agentes patogênicos externos. Podemos notar claramente quando esse “cinturão de defesa” cai, no caso de uma gripe, por exemplo, onde até nossa postura é afetada e precisamos ficar quase que o tempo todo deitados – sinal da falta de sustentação desse sistema de defesa em volta do corpo. Também, pele viçosa e saudável, são sinais de um pulmão saudável, já que o órgão também é responsável pela abertura e fechamento dos poros, e está relacionado aos pelos e cabelos.
O pulmão direciona sangue e oxigênio para o corpo. Com isso, carrega também Energia Vital, chamada de Qi, para todo organismo. Seu pico de atuação acontece entre 3h e 5h da manhã. Não é coincidência que nesse horário as crises respiratórias sejam mais comuns e encham hospitais na madrugada nessa época do ano. Há quem diga, inclusive, que estas seriam as melhores horas para meditar.
Mas as emoções também influenciam, e muito, esse órgão. O pulmão está relacionado à tristeza e melancolia e é normal que nos sintamos mais fechados nessa época. No entanto, para entender isso, é preciso relembrar as características do metal, tendência ao endurecimento e contração. E o que a tristeza faz conosco? Antes de torcer o nariz para essas emoções, saiba que esse movimento de voltar-se para dentro de si é um convite à introspecção. Pense na natureza: as folhas caem indicando o fim de um ciclo, uma pequena morte que, na realidade, guarda energia para um renascimento na primavera.
Mas falando das emoções, tristeza em excesso pode ser prejudicial ao pulmão. A tristeza afeta primeiramente o coração e depois o pulmão, que não forma Zhong qui, a energia responsável por deixar nossa região do peitoral estufada e aberta para a vida, “de peito aberto”, costumamos nos referir a um estado receptivo, por exemplo. A tristeza faz a pessoa acumular energia no pulmão e isso afeta a postura, o peito murcha, postura clássica do depressivo. Quando esse estado é prolongado, a tristeza, que não é ruim, começa a estagnar e comprometer a energia de defesa que pulmão cria, WeiQi, e nossa imunidade cai.
A alimentação também precisa de cuidados nessa época e, por isso, devemos ter especial atenção com esse órgão, já que, nesta estação, ele tem sua máxima atividade. Ainda que a temperatura não esteja tão fria, é tempo de substituir saladas por caldos quentes e alimentos que aquecem, como gengibres e picantes (com moderação) e tomar chás nas refeições e ao longo do dia. Investir em vitaminas preventivas homeopáticas ou antroposóficas para gripe é uma ótima pedida. Cuidado com vitamina C artificial, alguns estudos apontam para perigo de cálculos renais e elas ainda são feitas à base de açúcar, parabenos e corantes. Além disso, nosso corpo tem uma limitação de absorção de vitaminas, portanto, boa parte vai parar no xixi.
Na alimentação, o sabor relacionado ao pulmão é o picante, além de trazer calor, que a época pede para o organismo, em termos de movimento, o sabor picante nos leva naturalmente para “fora”, como se nos tirassem do estado excessivamente introspectivo a que pulmão pode nos levar.
Portanto, uma boa pedida para a época são alimentos picantes e naturalmente mornos, com ação mais purgativa que estimula o intestino, favorecendo a eliminação de resíduos.
Segundo a dietoterapia chinesa, alguns alimentos ajudam a tonificar, aquecer e umedecer o pulmão. Ao nutrir os canais do pulmão eles, inclusive, podem ajudar nas inflamações tão comuns nessa época.
- mel de abelhas;
- noz-moscada;
- amaranto;
- semente de mostarda;
- cebolinha verde;
- damasco;
- romã;
- limão;
- tangerina;
- maçã;
- pera;
- abacate;
- pimenta;
- cravo;
- alho-poró;
- pêssego;
- louro;
- mostarda;
- cardamomo;
- gengibre;
- alecrim;
- cominho;
- coentro;
- alho;
- amendoim;
- pistache.
Mas, atenção! alguns cuidados devem ser ressaltados:
Condimentos Picantes
Condimentos picantes tais como cardamomo, pistache, coentro, mostarda noz-moscada, gengibre, pimenta, cravo, alho-poró, louro, alecrim, cominho, alho e pistache são digestivos e tonificam o pulmão. Porém, como tudo, em excesso, eles são tóxicos e podem causar problemas na pele. Até mesmo o suor que estes alimentos causam podem gerar secura no pulmão.
Pimenta do ReinoDigestiva, ela também elimina o muco excessivo que o frio pode causar, regulando os órgãos digestivos, que ficam enfraquecidos pelo frio. Ela pode ser útil em caso de doenças da pele. Entretanto, em excesso elas são tóxicas.
Imagem: Relógio biologógico MTC (fonte internet)
Vamos estocar?
Outono, que tal começar a meditar?
Vemos que, para essa visão integrativa da saúde, nenhum órgão está isolado e emoções também influenciam na saúde física. Por isso, tão importante quanto a estação vigente é a estação anterior. O verão foi o tempo de cuidar do órgão coração e dependendo de como cuidamos dele (física e emocionalmente), estaremos mais ou menos preparados para lidar com os desafios do outono. Ainda, no outono estamos construindo a base para a estação seguinte, inverno, onde há recolhimento total. Por isso, o outono é época de estocar!
Se olharmos historicamente, Nos países que enfrentam frios rigorosos, as pessoas se cuidam muito, adquirindo disciplina que levam para todas as áreas da vida. Pense no passado, países europeus e escandinavos, onde o frio fazia com que as pessoas tivessem que estocar lenha para aquecer suas casas e comida, já que a plantação morria na neve.
Na Dinamarca, fiquei encantada quando entendi um conceito de vida que eles levam para tudo: Hygge. Ali, a maior parte do ano é fria e os dias, às vezes, têm apenas quatro horas de luz, pense no quanto a vida dessas pessoas é difícil, por mais desenvolvidos que sejam economicamente. O Hygge vem como um jeito de viver apreciando o simples da vida, mas dando valor aos pequenos momentos de prazer e alegria. Não há uma tradução específica, mas entendo o Hygge como meias quentinhas de lã, um bolo assando e aromatizando a casa, mantinhas aconchegantes, receber alguns amigos em casa com uma taça de vinho ou ficar debaixo das cobertas, de preferência de tecidos naturais, lendo um livro com uma caneca de chá. E com velas e fogo sempre acesos, mesmo que ainda seja dia no relógio.
Parece simples, mas na prática esses momentos Hyyge podem passar batidos, nos perdemos em tantos “tem que” que a vida corre como o relógio e os pequenos momentos não são celebrados. Nesse sentido, admiro a disciplina desses povos, que conseguem extrair o máximo de sentido de coisas tão ordinárias. Acredito que seja fruto dessa disciplina, herdada à custa de muito sofrimento de seus antepassados; esses sim, tinham que tê-la, ao preço da própria vida.
Mais uma vez, não somos apenas frutos de nossas escolhas, há um padrão incutido em nós, herança dos hábitos familiares e culturais. Aliás, esse é o grande tema da Epigenética – ciência que estuda e comprova o quanto o ambiente influencia em nossos genes e na manifestação ou não de doenças genéticas, inclusive.
Isso tudo para dizer que é perfeitamente compreensível que você, de um país lindamente tropical, tenha mais dificuldade em ser disciplinado quanto às suas rotinas e hábitos. Não estocamos comida no inverno e sequer – na maioria dos lugares – precisamos de casacos pesados nos dias de inverno no Brasil. Por isso, apesar de sabermos da importância da alimentação e querermos aprender a meditar, deixamos para depois e vamos empurrando com a barriga.
Mas lembre-se da tônica dessa estação, que está se manifestando na natureza. Folhas caindo e falando do fim de um ciclo, a pequena morte que, na realidade, guarda energia para um renascimento na primavera. Assim, bons hábitos cultivados agora estão falando de futura colheita. A prática da meditação, para quem não pratica, encontra no outono um excelente momento para o início. Nossa postura menos expansiva nos convida a olhar para dentro, como a natureza sabiamente nos mostra o caminho.
Por isso, aproveite esse período para olhar para você com carinho e compaixão. Veja quais áreas de sua vida merecem atenção e cuidado. Passadas as festividades e excessos do verão, caminhamos para o fim de um quarto do ano de 2023 e nosso corpo já mostra sinais. Como sempre, olhar para si, através do autocuidado, é a porta de entrada para qualquer processo de autodesenvolvimento.
Camila Capel
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