AutoconhecerInspiração

Coração: o regulador

Tempo de leitura: 7 min

Uma escrita, muitas formas de consumi-la.

Coração: o regulador
Eu leio para você…

A visão trimembrada do ser humano parte do pressuposto de que o homem possui, na região abaixo do diafragma, sua parte metabólica-motora, responsável por irradiar calor e promover constante movimento por meio dos processos metabólicos e da própria ação motora. É uma região que tem a capacidade de gerar vida.

Trata-se de uma área caracterizada por órgãos e tecidos moles, com uma grande circulação sanguínea, em que são criadas substâncias como suco gástrico e secreções. Assim, agrega a atividade de expansão do homem, gerando calor e substâncias que se expandem para outras partes do corpo.

Apesar de toda essa movimentação, não temos consciência sobre as atividades desta região, por exemplo, não sabemos como funciona o processo digestivo e não somos capazes de perceber quais órgãos estão envolvidos. É importante ter em conta que, se percebemos um órgão desta região, é porque ele está com algum problema, como uma dor ou até sensação de estômago cheio. Em teoria, quando estamos bem, não estamos conscientes destes órgãos. Isso ocorre porque o sistema digestório faz isso de forma autônoma, de modo que os processos relativos à área metabólica funcionem a partir de comandos cerebrais, que não passam pela nossa consciência.

Essa é uma região que se caracteriza pela presença de calor e movimento; ali acontecem os processos metabólicos e reprodutores e ambos nos falam dessa característica. Pés e membros inferiores frios nos falam de má circulação, por exemplo. Além disso, se o calor não está nesta região, provavelmente, está em uma região do corpo onde não deveria, como o polo oposto, ou seja, a região da cabeça, que para ser saudável, deve se manter fria.

Neste sentido, ditados populares fazem menção à desordem: “fulano é cuca fresca”, referindo-se a uma pessoa sossegada diante dos problemas, ou “esfrie a cabeça”, conselho que damos a alguém muito nervoso, ou ainda, “subiu uma raiva”, quando queremos dizer que o calor da emoção nos fez agir sem pensar,  invadindo a região superior. Em todos os casos, estamos dizendo que existe um calor nesta região e que qualquer dissipação para a cabeça é sinal de desordem.

Na outra polaridade, temos a cabeça – uma caixa fechada – que abriga a região neurossensorial e, do ponto de vista motor, é imóvel. No entanto, é ela quem recebe as informações e as concentra. É nela que fica a contração do homem. Em razão disso, podemos dizer que é uma região dura, fria, parecendo uma zona morta. Porém, é ela quem nos permite ter consciência. De certa forma, podemos relacionar a consciência com um local de menor vitalidade. De maneira paradoxal, podemos afirmar que para ter consciência, é preciso deixar morrer algo em nós. 


No centro, fica a região cardiorrespiratória, local em que o ar inalado é purificado junto o sangue e cujos elementos alimentam todo o corpo. Esta região é caracterizada pela mistura de partes moles, como os músculos, e duros, como as costelas, que formam esta caixa que protege os dois órgãos relacionados ao ritmo cardiorrespiratório, pulmão e coração.

Seguindo o raciocínio de que nas partes mais moles encontramos tudo aquilo relacionado à vida e à inconsciência, enquanto as partes mais duras abrigam aquilo que está morto e refletem os processos de consciência. É no centro que acontece o encontro entre vida e morte.

Afinal, existe exemplo constante maior de vida e morte do que nossa respiração? Ao nascer, o ar invade nossos pulmões, expandindo brutalmente os alvéolos, motivo do imensa dor e choro do bebê; ao morrer, poeticamente, damos o último suspiro. No intervalo desta grande respiração estão nossos anos de vida, com seu constante nascer e morrer a cada inspiração e expiração. 

A compreensão desse mecanismo traz a visão do homem como aquele que alterna polaridades e encontra o equilíbrio exatamente no centro, no coração. Sendo assim, o homem em equilíbrio deriva de um agir no mundo a partir do querer, ou seja, de uma vontade que o faz agir (sistema metabólico-motor | polo inferior). Este querer, por sua vez, vem de um pensar (sistema neurossensorial | polo superior) e o equilíbrio entre ambos se encontra no sentir (sistema cardiorrespiratório | centro).

Círculos vicioso e virtuoso

Na Medicina Tradicional Chinesa, o coração tem ligação direta com a mente, chamada de Shen. Os estudos de neurociência também apontam para esta ligação. Nossos órgãos sensoriais recebem estímulos externos, atuando diretamente no nosso sistema límbico, ligando emoções às memórias.

A maior parte do nosso sistema é comandado a partir de sensações e emoções. Se as sensações forem de medo, por exemplo, nosso cérebro passa a operar sob este comando e, neste caso, o cortisol passa a circular em todo organismo.  O problema é viver constantemente nesse estado, pois o cortisol derruba nosso sistema imunológico, gera estresse, ansiedade, entre outros problemas. Isso nos leva a viver mais sob este estímulo, retroalimentando um círculo vicioso, tornando nosso ambiente mais permeável à invasão de agentes patogênicos.

Na mesma via, quando experimentamos gratidão, equanimidade e sentimentos relacionados  ao amor, nosso sistema é ativado com estas emoções e nosso cérebro passa a operar a partir de outros neurotransmissores relacionados a estas sensações, como a serotonina, a dopamina e a ocitocina.

Assim como o excesso de cortisol leva a um círculo vicioso, estes neurotransmissores de bem-estar levam a um círculo virtuoso, aumentando a imunidade e melhorando a saúde em todos os sentidos. Dessa forma, fica fácil entender a ligação do coração – o nosso sentir –, com nosso cérebro e mente, bem como agimos no mundo de acordo com tudo isso.

Essa análise individual de cada região do corpo ajuda na compreensão do ser humano de forma tríplice e de como o homem se relaciona com o mundo a partir dela.

O desenvolvimento do corpo demora três setênios para se completar e acontece de forma crânio caudal. A criança, no primeiro setênio, tem um grande desenvolvimento do sistema neurossensorial, passa pelo cardiorrespiratório e, finalmente, no terceiro setênio é a vez do sistema metabólico-motor. Porém, sua consciência se desenvolve de forma oposta, do polo inferior para o superior. A criança ganha consciência, primeiramente pelos pés, onde o andar é a grande conquista; depois acorda o centro, marcado pelo universo emocional no segundo setênio; até que, no terceiro setênio ela desperta a consciência na cabeça, representado pela capacidade de um pensar claro. Somente ao final deste setênio podemois dizer que o ser humano completou seu desenvolvimento físico, mental e emocional e espiritual. Mas isso é só o começo, a partir daí ele terá que se autodesenvolver para operar esta potente máquina que está a sua disposição. Se nos três primeiros setênios nós educamos um ser, a partir daqui será a sua autoeducação que o desenvolverá.

Você já parou para pensar em como se deu sua própria construção e nos reflexos que isso pode ter em sua vida? Compreendendo a importância de cada uma dessas fases fica mais fácil visualizar como os três primeiros setênios constituem a base para a construção de um ser humano em total posse de seu eu.

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