Viver está cada vez mais desafiador, lidamos com poluição, agrotóxicos, lixo, desmatamento, escassez de recursos. Na sociedade, desigualdade, violência,
fome. No ser humano, ansiedade, estresse, depressão, sensação de impotência, falta de tempo e o males do nosso tempo: imediatismo e excesso de informação. Queremos tudo para ontem, não tendo o tempo de pensar para organizar nossas ideias e, ao mesmo tempo, sabemos cada vez mais sobre tudo que não devemos ou deveríamos fazer para construir um futuro melhor.
Mas se esse é nosso zeitgeist, o espírito do nosso tempo, serão esses os desafios que teremos que transcender para acompanhar a flecha evolutiva da humanidade e do planeta. Portanto, é tempo de aprender novas formas de nos relacionarmos com o mundo e com as pessoas que o compõem.
Penso que está sendo exigido do ser humano um passo além do conhecido até então: desenvolver novas maneiras de habitar nossos espaços, de utilizar os recursos, de reutilizar os que que foram gastos; ainda, estamos, cada vez mais sendo empurrados a nos relacionarmos de forma mais mecânica e impessoal, o que, ao meu ver, exige que refinemos nossas capacidades de perceber o outro e nos sensibilizarmos para perceber nuances sutis que envolvem uma relação. Se antes sentávamos para uma reunião ou encontro e podíamos olhar o outro, olho no olho, hoje nossa sensibilidade deve atravessar telas e perceber emoções permeadas nas palavras. Nessa tarefa, a arte da comunicação se torna nossa maior facilitadora e, ao mesmo tempo, nosso maior impeditivo se não soubermos dominá-la. Mas quem alcança esse patamar, de fato, pode dizer que possui as tão requisitadas habilidades no universo corporativo, as soft skills.
É inegável que essa transformação passa pela educação, precisaremos ensinar as crianças a estar nesse mundo que é tão novo para elas quanto para nós, portanto, o processo de educação, inevitavelmente, passará pela nossa autoeducação. Educar a si próprio, algo que apenas quem conhece a si mesmo antes é capaz de fazer. Assim, acredito que o caminho da grande mudança não começa despoluindo, reconstruindo, reflorestando, todas as palavras que começam com o sufixo indicativo de fazer novamente são as medidas emergenciais para tapar o buraco feito, mas precisamos iniciar um movimento muito mais profundo e transformador se quisermos continuar a existência humana. O planeta adoeceria sem o ser humano, assim, a Terra é um ser.
Nessa linha de raciocínio, a espiritualidade, ou seja, a existência de uma camada além da física e material precisa ser considerada.
Na visão espiritual, é a partir da força espiritual de cada ser humano
é que a Terra pode existir, pois dali, ela, a Terra, extrai a força de vitalidade. Portanto, a via contrária também deve ser considerada, a Terra, como um ser, também se alimenta da nossa materialidade humana. Portanto, ao cuidar do corpo de forma integral, englobando saúde física, mental, emocional e espiritualidade, representada pela nossa consciência, estamos, também, contribuindo para que a Terra continue sua vida.
Assim, quando sentimos força física, mental e espiritual, vitalizamos o nosso planeta. O que desvitaliza a Terra é imaginá-la como uma estrutura da qual nós, humanos, apenas usufruímos. Nós somos a Terra e a Terra somos nós.
Quando o homem entende que é constituído pelas mesmas coisas da qual o universo também é feito, pode experienciar a unicidade e perceber que cuidando do planeta, está cuidando de si e quando cuida de si, está impactando positivamente seu entorno e, consequentemente, o planeta. Entender-se como uma parte de individualidade dentro da totalidade desperta a força da natureza dentro de nós.
Olhando para a história da evolução humana, indianos e hindus estavam na Terra e achavam que a vida aqui era uma grande ilusão, maya. O homem dessa época ainda era muito ligado ao mundo espiritual e pouco ao material, possuíam clarividência nata e por isso ainda podiam vislumbrar a vida espiritual e material ao mesmo tempo. Portanto, viviam em uma espécie de estado de sonho e não se apegavam à Terra achando que a verdadeira vida era apenas a espiritual. Mas a evolução precisava da matéria, assim, o ser humano começa a perder gradualmente, sua capacidade clarividente que o fez, por exemplo; fazer feitos e ter conhecimentos que até hoje nos surpreendem. Pense no conhecimento médico, astronômico, matemático que o homem antigo possuía e que podemos ver em museus e os grandes patrimônios da humanidade, mostrando construções e feitos que nem os mais engenhosos especialistas e seus computadores hoje conseguem fazer.
Mas para que o homem ganhasse consciência, ele precisaria descer mais e se tornar mais material. Na época dos persas já começamos a agricultura, domesticamos animais, criamos ferramentas, ou seja, o homem começa a se prender mais à materialidade e criar vínculos com a Terra. Portanto, vemos que o homem, de tempos em tempos, é chamado a desenvolver capacidades que não possuía até então. Penso que vivemos um desses momentos de transição, de mudança de paradigmas. O que nos servia até então, não nos serve mais, porque algo dentro de nós parece também estar sendo transformado. É a força da autoconsciência, dada para todo ser humano enquanto possibilidade e nos colocando em um novo patamar, como se enxergássemos aspectos que antes passavam despercebidos e que, agora, nos chamam atenção.
Podemos não saber o caminho certo, mas algo dentro de nós já nos incomoda quando estamos diante de algo que vai contra a evolução da espécie. Parece que ganhamos um radar que mostra quando estamos indo contra a evolução. Esse radar podemos chamar de consciência. Ganhamos esse presente, o da possibilidade de sermos autoconscientes, há cerca de dois mil anos e estamos aprendendo a usar essa poderosa ferramenta. Como todo instrumento muito afiado, somente a habilidade e disciplina nos tornarão mestres. Ao longo da evolução nós utilizamos a ferramenta para conquistar o mundo, assim, ganhamos liberdade exterior, a tal ponto que estragamos a água que precisamos beber, envenenamos a comida que precisamos comer, poluímos o ar que precisamos respirar. Se nada for feito, estamos inviabilizando o espaço vital para futuras gerações. Mas ainda falta a maior de todas as liberdades: a liberdade interior.
A realidade global de nossa existência consiste em uma realidade material e uma espiritual; é preciso obter um pensamento integrado que inclua estes dois tipos de liberdade. E são as relações humanas que nos trarão esse exercício. Este é o desafio proposto para nosso Zeitgeist. Todos nós somos seres no desafio constante de nos tornarmos humanos e fortalecer o tecido social do qual somos parte.
Acredito no desenvolvimento individual que, primeiro e naturalmente, nos levará a um certo grau de egoísmo, quando olhamos mais para nós mesmos do que para os outros. Mas será a partir desse olhar pra dentro que poderemos nos autodesenvolver; e a medida que me torno melhor comigo, sou melhor para o outro.
Essa é minha proposta: trazer o “zoom in”, olhar cada vez mais pra dentro e, a partir desse lugar, dar o “zoom out” e enxergar interesses mais amplos. Nesse momento, é como se o segredo do mundo fosse des-vendado e os interesses da humanidade se tornassem nossa própria causa; quando chegarmos neste grau, estaremos, de fato, trabalhando em prol do coletivo e a serviço do nosso planeta.
Desde pequena, as injustiças e dores do mundo me causavam mal estar e culpa. Com a ajuda de minha mãe, aprendi que aquilo que via no plano material era uma parte da vida, que continha, ao mesmo tempo, um elemento espiritual também. Saber da existência de dois universos que aconteciam concomitantemente me trouxe um olhar diferente para tudo que me deparava nesse mundo. Na vida adulta, a sensação de impotência da criança que queria mudar o mundo ainda existia, mas o desenvolvimento da consciência e o conhecimento da ciência espiritual, em especial da Antroposofia, me devolveram a força necessária para transformar a partir de mim mesma. Por isso, este é o caminho que escolhi para convidar outras pessoas que se sentem tocadas pelas dores do mundo ou que se sentem impulsionadas a começar um movimento de transformação.
No passado, esse tipo de conhecimento era fechado a círculos esotéricos e reservados a alguns escolhidos para fazer parte de escolas iniciáticas. Mas a possibilidade de nos tornarmos seres autoconscientes, permite que hoje possamos falar sobre temas mais profundos de forma aberta e clara. Mais do que isso, essa é a postura exigida em nosso tempo, chamado de “período da Alma da Consciência”. Este período nos permite falar abertamente sobre temas até então considerados ocultos; desde que sejam tratados com respeito. Se no passado os temas espirituais eram vividos no estado de sonho, maya, hoje os temas espirituais precisam ser tratados em vigília, despertos.
Para quem sente este chamado, este será o espaço para falar de impacto socioambiental começando pela vida prática, ou seja, pela camada a qual nos cabe o mínimo de escolha, a da consciência. Mas também esse é o espaço para o meu autodesenvolvimento, porque também vou me desenvolver enquanto experimento abrir esses temas para além do meu universo individual. Eu te convido a refletir, conectar-se a você mesmo e a se inspirar para usar parte do seu tempo aqui na Terra para deixá-la melhor do que a encontrou quando chegou nessa existência humana.
Mas nosso tempo exige que incluamos outras vozes, caso contrário, corremos o risco de cair no egocentrismo. Por isso, convidamos outras vozes para falar as verdades que habitam dentro deles também. Somente quando pudermos ouvir pontos de vista diferentes do nosso – com respeito – é que construiremos um tecido social firme, coeso e diverso o bastante para, de fato, chamarmos de humanidade.
Comente, queremos ouvir você.
Acreditamos que a troca é fundamental para evolução da nossa consciência.
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