ParentalidadeInspiração

20. O desenvolvimento da criança

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Uma escrita, muitas formas de consumi-la.

20. O desenvolvimento da criança

Ao observarmos uma criança tendemos a olha-la apenas fisicamente, como se todo seu desenvolvimento fosse fruto exclusivo de um aperfeiçoamento puramente físico. Isso é compreensível, principalmente nos primeiros anos, em que os pais, quase em tempo integral, têm que cuidar de necessidades primárias, como alimentar, higienizar e zelar para não passar fome, frio ou calor. Podemos entender como uma preocupação mais voltada às necessidades vitais e sobrevivência do bebê. A partir dos dois anos e meio ou três, o pequeno, que mais se assemelhava a um bonequinho(a), começa a mostrar que tem vontades próprias. Nesse momento, temos o primeiro lampejo de que existe uma vida emocional latente naquele pequeno ser. 

Esse embate emocional costuma durar toda a infância, adolescência e com sorte, termina na juventude. Talvez nos ocupemos tanto desses pontos de tensão que esquecemos que atrás das birras, mau humor, inadequações, contestações, existe um motivo que leva aquela criança/jovem a se comportar dessa forma. Seu eu, sua individualidade, está tentando se formar, como um “sair da casca”, que leva por volta de vinte e um anos para, efetivamente, acontecer.

Mas o ser completo da criança já está contido nela desde sempre, como uma planta, em que existe um processo de crescimento imperceptível aos olhos comuns, mas que pode ser capturado em imagens time-lapse naqueles programas sobre natureza com câmeras poderosas. Com o ser humano acontece o mesmo; como pais, recebemos uma criança e vemos apenas partes de um ser inteiro e precisamos dar tempo para seu desenvolvimento completo acontecer, ou seja, para seu botão florescer. 

Mas é preciso saber que do instante em que pegamos nosso filho nos braços pela primeira vez, ele já carrega o todo em si. Mas seremos convidados, a cada fase, a olhar com mais atenção a determinada parte. No primeiro setênio, realmente, nossos instintos estão certos, precisamos cuidar da vitalidade da criança para que ela se ancore em seu corpo físico e a vida progrida. No segundo setênio, quando começam a fase escolar mais seriamente, é a vida emocional que ganha o palco da atenção dos pais, podemos notar que eles adoecem menos e que já “sabem se virar” e então podemos relaxar do físico. Mas, curiosamente, entra outra preocupação, entramos no âmbito anímico, onde as vivências da alma, os sentimentos e emoções ganham protagonismo. A criança contesta, briga, reclama, mas não é mais como nos três anos, agora, sentimo-nos pessoalmente atacados e começamos uma relação de trocas emocionais. Aqui, os pais são convidados a se trabalharem emocionalmente, caso contrário, as disputas de poder começam e uma relação pai e filho pode se tornar uma relação entre iguais, o que é muito prejudicial à criança e à saúde do futuro da relação. Já no terceiro setênio, quando a maturidade sexual, efetivamente, começa, a parte que quer ser vista é a emancipação da individualidade daquele ser. O jovem quer ganhar o mundo para ir de encontro ao seu eu e esse processo vem recheado de desafios e misturas de preocupações. Os pais se preocupam com o corpo físico dos filhos e com sua sobrevivência, mas, também, temem sua estabilidade emocional, afinal, muitas vezes, eles iniciam sua vida sexual nessa fase e podem, igualmente, “se machucar”. Mas entra um novo ingrediente, queremos que eles sejam realizados, não apenas pessoal, mas profissionalmente; queremos que dêem conta de estar no mundo e que, quando não estivermos, possam dar conta de suas vidas. Ampliamos o olhar para além do presente, vislumbramos seus futuros, a tal ponto de perceber que atrás das portas batidas, cara fechada ou roupas largas, exista um ser humano inteiro, cheio de medos, desejos, angústias e preocupações. E talvez nessa hora, pela primeira vez, pais olhem para seus filhos e consigam se lembrar que um dia também passaram por aquilo tudo e o quanto foi difícil. 

Ao resgatarem a sua própria juventude,  os pais alcançam um nível profundo de empatia, não por um filho, mas por outro ser humano. Nesse estado, podem se dar conta de que muitos anos se passaram, mas aquele jovem inseguro ou que sofreu para crescer, ainda está um pouco presente dentro de si, caso contrário, não temeria pelo crescimento do seu filho. Sim, tememos porque também foi difícil para nós, e não queremos que nossos passem por isso. E a relação parental é essa beleza, que nos convida, a cada fase do desenvolvimento da criança e do jovem, a resgatar nossas próprias fases de desenvolvimento.

Acredito que nessa experiência de troca, resida o que há de mais sagrado no exercício da parentalidade. Somente com esta postura de humildade, seremos capazes de não julgar a criança pelo que ela apresenta momentaneamente, e tremos condicões de enxergar seu ser por inteiro, ainda que a aparência momentânea não seja tão agradável, que o dia a dia encontre mais birras, cansaço, mais problemas do que poesia. Afinal, isto é apenas parte de um ser inteiro que carrega a perfeição como tônica central. Mas  precisaremos olhar esse desenvolvimento como o germinar de uma planta e sermos bons jardineiros: cuidar do solo, fornecer água e luz em quantidades adequadas. Isso significa que em certos dias, precisaremos recolhê-la da exposição constante ao sol, outros deixa-la mais exposta. O sol podemos comparar como a fonte de vida de onde jorra toda a força vital e espiritual para o ser humano.  A tendência natural de uma planta é crescer em direção a ele, assim como o caminho de cada ser humano que nasce na Terra, ele sempre tenderá a ir em direção a essa força e realizar sua tarefa, com ou sem ajuda dos pais. Mas se crescerem rápido demais, não criarão as raízes necessárias para se firmar e crescerão desnutridos de muitas coisas; se fincarem raízes muito profundas, podem ter preguiça de crescer e a vida vai parecer um fardo pesado. Assim, os pais, precisam achar a medida justa que possibilite à criança crescer em tempo e ritmo saudáveis.

Quando entendemos essa imagem em um lugar profundo de nossa alma, podemos relaxar um pouco quanto aos excessos de querer fazer  os filhos crescerem rápido demais ou de querer segurar seu desenvolvimento. Mas como bons jardineiros podemos controlar, excesso e escassez, dando condições para que eles se desenvolvam sozinhos.

Observando o desenvolvimento de maneira ampliada, talvez você tenha pensado em você e em seu próprio desenvolvimento. Se isso aconteceu e você gostaria de dar um passo além, convido você a fazer uma pesquisa preciosa sobre a pessoa mais importante na educação dos seus filhos, você!

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