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O gesto dos adultos e a religiosidade para as crianças

Tempo de leitura: 4 min

Uma escrita, muitas formas de consumi-la.

O gesto dos adultos e a religiosidade para as crianças
Eu leio para você…

Para a criança pequena, a religiosidade é aquilo que o adulto vive de espiritual através do seu gesto. Mas o que quer dizer um gesto espiritual afinal? A melhor resposta que ouvi foi em uma palestra na Escola Waldorf Rudolf Steiner”: “O gesto espiritual é o gesto harmo- nioso, que traz a beleza da qualidade humana”. E o gesto harmonioso acontece quando nós nos relacionamos com o outro, com a natureza e com o mundo à nossa volta.

A criança chega ao mundo aberta aos pais e confia que eles con- seguirão mostrar-lhe os gestos humanos, para que ela construa seu próprio desenvolvimento. Para nós, pais, surge a consciência de que possuímos exatamente aquilo que as crianças vêm buscar, e por isso elas nos escolheram. Talvez aqui more o sagrado do nascimento. Nosso comprometimento nesta tarefa é a oportunidade de desenvolvermos nosso elemento espiritual; através dos desafios impostos pela parenta- lidade, somos chamados a desenvolver nossa vontade e, a partir dela, fortalecer nosso próprio eu.

Qual mãe não sentiu uma onda de amor que envolve o ambiente quando, de repente, ela olha para seu bebê e se dá conta do milagre da vida? Sentimento que faz sair leite do seio só pelo fato de a mãe se lembrar do bebê, quando está longe dele. A ciência explica este fato por meio da atuação do hormônio produzido pelo hipotálamo e armazenado na hipófise, a ocitocina; por ser produzida pelo hipo- tálamo, a ocitocina está diretamente relacionada às emoções. Para além das comprovações científicas, não podemos negar a beleza da vida ao produzir um hormônio capaz de fazer a mãe amar seu bebê de forma tão intensa. É curioso a natureza produzir um hormônio que faz sair leite do seio da mãe lembrando-a de que está na hora do seu bebê mamar, cuidando assim de sua sobrevivência.

No útero existia um ritmo comandado pelos mistérios da natureza e, quando a criança nasce, os pais têm a missão de criar um ambiente também regido por um ritmo, para que ela se desenvolva com saúde. Desta forma, o ambiente da criança no primeiro setênio é como um grande útero externo, no qual ela é inserida, e os adultos de sua con- fiança, principalmente os pais, serão fundamentais para garantir e trazer-lhe as impressões do novo ninho chamado mundo. Isso ocorre em virtude da beleza do gesto humano, por meio do qual a criança pode ver os pais se expressando, lidando com a natureza e com as pessoas com as quais se relacionam. Pode parecer algo muito simples e pouco importante, mas lembre de que os primeiros anos são ainda como o útero, e o universo, para a criança, se resume aos seus pais e o que eles fazem. O adulto impregna o ambiente da criança com suas intenções de bondade para com o mundo e principalmente com os gestos de cuidado do dia a dia para com ela, tornando-os sagrados. Esse é o verdadeiro sacrifício, “sacro-ofício” de ser o guia desta jornada. As crianças vêm ao mundo para aprender o que é ser um humano, habitar um corpo físico, além do espiritual, que já carregam consigo. Por isso, é sendo humano que os adultos podem ensinar o que as crianças precisam para que, em breve, elas possam chegar como eu neste mundo. Os pais possuem a missão de mostrar a beleza do gesto através de suas próprias condutas, ensinando o verdadeiro sentido de religiosidade por meio do mais sagrado ofício. Uma pessoa leva três setênios para começar sua jornada individual, consciente de seu eu, e os pais podem partir antes de ver os efeitos do que quiseram ensinar a ela. Mesmo assim, fazem-no com todo o amor e entrega. Este é o maior ato de devoção do ser humano e a mais genuína religiosidade.

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