Conheça alguns tipos de estresse que podem acontecer na infância e influenciam diretamente na relação de quem cuida e de quem é cuidado.
Toda criança precisa de um adulto para sobreviver, é uma necessidade humana. Além de ser cuidada, a criança também necessita ser amada. Quando isso não acontece, levam-na a um medo profundo de abandono, o que gera estresse. A Sociedade Brasileira de Pediatria considera três níveis de estresse: positivo, tolerável e tóxico, ligados à capacidade da criança lidar com episódios negativos, conforme seu estágio de desenvolvimento e o apoio da família.
Estresse tóxico
É aquele em que a situação negativa é muito dolorosa ou quando algo se repete muitas vezes e supera a capacidade da criança de lidar com a situação. Nesta categoria estão a violência física ou verbal e a privação econômica ou social, problemas com amigos da escola, professores agressivos, ausência de um dos pais ou ambos, excesso de atividades ou um divórcio conturbado dentre outros.
Estresse tolerável
Ocorre quando a criança passa por situações desafiadoras, porém gerenciáveis, com ou sem ajuda de adultos. Apesar de sofrerem um pouco por eles, não causam um impacto que perdure. O lado positivo desse tipo de estresse é que ajudam a desenvolver capacidades de enfrentamento
Estresse positivo
Acontece quando a criança passa por momentos de estresse de baixa intensidade e por curtos períodos e em geral conta com o suporte da família, como no caso de mudança de cidade ou entrada em uma escola nova. Este estresse é positivo pois as taxas de cortisol liberadas também representam um estímulo vital para que o ser humano sinta vontade perante a vida.
O apoio do adulto traz segurança em todos os casos. Há também o caso onde a criança vive em um ambiente estruturado, com a presença dos pais, vida financeira estável e mesmo assim, sofrem de algum tipo de estresse. Isso porque cada criança vivencia experiências de uma forma e situações aparentemente simples para adultos, não são sentidas assim pela criança. E pela demora em perceber que a criança está sob estresse, muitos pais confundem sintomas com mau comportamento. Ainda, muitas vezes, apesar de aparente equilíbrio no ambiente da criança, quando os pais vivenciam turbulências emocionais, a criança percebe o campo emocional de suas figuras de referência, o que também pode gerar estresse.Toda mãe deve ter notado que seus filhos apresentam um comportamento atípico quando ela mesma passa por algum conflito interno. A percepção desse campo emocional pode ser relacionada a uma espécie de órgão dos sentidos “invisível” que, de acordo com a antroposofia, é uma capacidade nata da criança, especialmente no primeiro setênio. O livro Parenting from Inside Out (Daniel J. Siegel e MaryHartzell) traz uma explicação sobre a questão da comunicação entre hemisfério que nos serve para entender como essa comunicação não verbal acontece. Segundo ele, a comunicação de uma pessoa com outra envolve duas formas de comunicação: não verbal e verbal. O hemisfério direito, somático, social, é designado para enviar e receber sinais não verbais. Já o hemisfério esquerdo é especializado em enviar e receber informações racionais, linguísticas, pensamentos e toda sorte de sinais verbais. Essa divisão nos leva a concluir que o cérebro de um adulto pode enviar para o cérebro da criança sinais divergentes. Os sinais enviados pelo hemisfério direito do adulto moldam diretamente a atividade do cérebro direito da criança. A mesma coisa acontece entre hemisférios esquerdos, palavras vindas do hemisfério esquerdo de uma pessoa, afetam o hemisfério esquerdo de quem as ouve. Quando os sinais verbais e não verbais vindos de outra pessoa são congruentes, a comunicação faz sentido. Do contrário, quando sinais verbais e não verbais são incongruentes, a mensagem se torna confusa. Suponhamos que uma mãe está triste e sua filha pergunta o que está errado com ela e se ela fez algo que a deixou triste. A mãe não está triste com filha e sim por outros motivos, e para tentar deixar o assunto de lado, diz que está tudo bem e sorri forçosamente. A criança é capaz de perceber a incongruência entre a fala e o que ela percebe no campo não verbal, e sua experiência lhe informa que há uma mensagem contraditória.
O que fica claro é que a criança pequena, mesmo percebendo as incongruências, não conta com recursos para lidar com as angústias que tais conflitos podem gerar em seu interior. Portanto, mesmo ambientes onde, aparentemente, existam níveis normais de estresse, podem esconder gatilhos para um estresse crônico, vindo de emoções desprazerosas, onde a criança sente enorme desconforto ao receber mensagens duplas constantemente e não sabendo como lidar com elas.
É claro que todos nós passamos por situações difíceis e que lidar com a flutuação emocional faz parte dos desafios de se tornar um adulto saudável. Também há um consenso de que a maioria dos problemas de um adulto não são da alçada da criança e omitimos temas densos na tentativa de poupá-los. Mas saber que esse mecanismo de percepção da criança existe nos torna conscientes de que aqueles pequenos seres estão sendo impactados pelas nossas emoções mais íntimas e que essas vivências internas formarão a base para as próprias estruturas da criança. Isso nos coloca em um papel de muito mais responsabilidade frente a como devemos expressar nossas emoções. Afinal, falando ou não, eles irão sentí-las.
O problema acontece quando os pais não se dão conta de que suas emoções estão fora de controle, que suas oscilações estão extremas e confusas. Nesses casos, a criança está percebendo um adulto raivoso, com tom de voz constantemente áspero, feições rudes e uma maneira de lidar com o externo extremamente enérgica, mas ficam perdidas pois acham que o problema são elas. Nestes casos, elas sentem um enorme medo de rejeição, como se os problemas derivassem de suas existências. Para ela, que precisa, instintivamente, “sobreviver,” o medo de ser abandonada é sentido como ameaça real e o organismo compensa liberando mais cortisol na corrente sanguínea, elevando seus níveis considerável e consequentemente.
Quando o adulto não realiza um trabalho constante de autoconhecimento, facilmente age sob padrões de estresse ocultos, sem se dar conta. Esse estado de ser se tornou comum na sociedade atual; excesso de informação, tecnologia, bombardeio digital, trânsito, corrida pelo sustento, cobranças em casa e no trabalho, todos esses são fatores que entram na categoria expo some, estudo atual que considera todos os tipos de exposições nocivas do contexto de vida de uma pessoa, do nascimento até a morte, de substâncias químicas, radiação solar, poluição, temperatura à fatores relacionados ao estilo de vida, como hábitos de sono, exposição ao estresse e agentes sociais.
Adultos que passaram uma vida toda influenciados por esses agentes, podem considerar suas condutas toleráveis porque aprenderam a lidar com elas, mas quando se trata de um trabalho de educação comprometida, falamos em um trabalho de auto educação, onde os pais só poderão ajudar seus filhos a se desenvolverem plenamente, se conseguirem olhar para suas próprias emoções.
Treinar esta capacidade, ressignificar valores, rever suas crenças, são atitudes possível para o adulto já formado; isso lhe permite contextualizar os fatos e colocá-los em uma ordem mental, adquirindo consciência e tornando possível a mudança dos padrões mentais e emocionais. Porém, a criança ainda está formando suas próprias estruturas e precisa ter como referência adultos comprometidos, isso acontece quando estes se comprometem com seu autodesenvolvimento. Esse é o maior suporte e apoio que podemos dar. Adultos de referência que reconhecem suas falhas e buscam uma mudança positiva, são os maiores incentivos para as crianças aprenderem a lidar com os revezes que, naturalmente, vão ocorrer ao longo de suas vidas.
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