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6. O cuidado diário: a importância do toque

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Uma escrita, muitas formas de consumi-la.

6. O cuidado diário: a importância do toque
Eu leio para você…

Nossa pele cria limites entre o corpo e o mundo. O tato constantemente nos mostra quem somos e permite que percebamos nosso entorno. De maneira geral, a pele é nosso primeiro contato com o mundo  e protege o que está em nosso interior.  

O sentido do tato conta com receptores distribuídos por toda superfície corporal através da pele (mucosa), onde o toque é o grande protagonista,  proporcionando limites percepção de nós mesmos

Por volta do primeiro ano de vida, o ser humano faz uma grande conquista,  o andar. Entretanto, esse processo começa muito antes, o simples direcionamento do olhar já é um preparo para isso e o ápice do processo é o andar ereto. Habilidade que exigirá grande  experimentação do mundo e grande uso do sentido do tato, ela rasteja, toca e leva objetos à boca. Tal marco, do ponto de vista científico espiritual, marca a separação entre o ser e o mundo e ela necessita construir pontes entre ambos; mas antes isso, ela precisará estabelecer os limites que a diferenciam dos objetos e pessoas que a cercam.

O sentido do tato surge ainda na gestação, primeiramente na boca.  É sabido que a criança experiência o mundo através dessa porta de entrada. Naturalmente, ela leva tudo para ser experimentado ali. Segundo Bruce Lipton, biólogo da Universidade de Stanford e um dos  expoentes do tema Epigenética, a necessidade que a criança tem de colocar tudo na boca faz parte da formação do seu sistema de defesa. Segundo ele, a amigdala da garganta não serve para proteger de patógenos. Do contrário, elas os fazem entrar, os recebem. Para Lipton, a amigdala seria um  centro de aprendizagem onde tudo que passa por lá,  por fricção, traz informação sobre aquele objeto ao organismo. A natureza a teria criado para que entrássemos  em contato com o ambiente para aprender sobre ele e ficarmos imunes àquilo que estamos em constante contato.

Portanto, vemos que o contato é a forma de reconhecer o mundo que nos cerca. Porém, mais do que simples contato, a criança precisa do toque para criar seu corpo e sua noção de individualidade. Assim, são os toques do cuidado diário da higiene, do carinho ou da brincadeira  que mostrarão onde ela termina e onde começa o outro. Por meio desse toque, a criança está moldando sua percepção do mundo e criando uma imagem de si mesma. 

É a mãe quem a informa sobre seu próprio corpo ao toca-la em  determinada parte e nomeá-la para a criança; ou ainda, quando ela se machuca, é a mãe ou adulto  quem a informa onde é ponto do corpo onde ela se machucou. Ela ainda não se conhece por inteiro e precisa dessa troca com a figura de sua referência para conhecer a si mesma.

Os limites que o toque traz, falam sobre proteção e mostram que à criança que ela não é algo sem fim, misturado à vastidão do mundo.  A antiga técnica de amarrar os recém-nascidos nos cueiros ilustra o significado que os antigos já conheciam, a criança se acalma quando contida em um espaço onde todo seu corpo esteja sendo tocado. Ela se sente protegida porque percebe os limites gerados entre seu corpo e as cobertas, experiência antes vivenciada nas paredes do útero quentinho e escuro, os seus primeiros limites de proteção. Não precisamos amarrar os bebês, basta dar a eles a  sensação de ter corpo envolvido em um colo firme e seguro, isso estará, da mesma forma,  contribuindo para a vivência dos limites.

O toque é o meio pelo qual a criança constrói vínculos fortes e é o melhor ensinamento que podemos dar aos nossos filhos. Não se trata apenas de distribuir afagos, mas de tornar o toque presente na rotina diária; do afeto à higiene estamos construindo os maiores vínculos de confiança.

Aliás, os momentos diários e repetitivos, como o cuidado com a higiene ou alimentação, quando permeados de amor e presença, representam o mesmo que um abraço forte. Em momentos corriqueiros, a presença dos adultos é capaz de transmitir o essencial. O papel dos pais não é apenas explicar o mundo à criança, mas oferecer a ela sua presença, mesmo que silenciosa, aliada à cumplicidade dos gestos afetuosos e repletos de sentido.

É  extremamente prejudicial para criança receber gestos realizados por movimentos puramente mecânicos, sem afeto. Afinal, estamos ensinando a ela a percepção de si mesma e a tornar-se humana, para isso precisa de exemplos para imitar. 

Ainda, cada vez que a criança é tocada com respeito e amorosidade, ela aprende que seu corpo é um templo sagrado. Uma criança tratada com respeito saberá distinguir o que é um toque afetuoso de um toque que a torna objeto de um outro, por exemplo. Por essa razão, conhecer o próprio corpo pode ser um recurso contra abusos. Afinal, ela saberá diferenciar um toque amoroso de um toque invasivo e desrespeitoso.

Na construção deste processo, tão importante quanto o toque, são os momentos em que a criança fica entregue a si mesma como, por exemplo, brincando no chão, sob a supervisão do adulto- sempre livres de perigo. Nesses momentos são onde ela consegue sentir o que é estar apenas  consigo. Este espaço começa com a liberdade assistida, trazendo sensação de entorno e,  aos poucos, expandindo-se para um espaço maior. 

É importante para a criança experimentar momentos livres dos nossos braços. Porém, algumas vezes é difícil para os pais– especialmente para as mães– deixarem seus bebês entregues a si mesmos. Isso pode trazer uma sensação de angústia e, às vezes, até de culpa, que fica evidenciada pelo choro da criança,  que protesta por estar só. Na tentativa de suprir este vazio, a mãe acaba não proporcionando esta alternância, contribuindo para que a relação fique apenas em um dos polo, o do colo excessivo

Além disso, o prazer de ter criança nos braços também é grande, tornando a “separação” dolorosa para ambos. No entanto, mais do que importante, ela é essencial para o ser humano vivenciar estes pequenos distanciamentos, para conseguir perceber a si mesma além do toque do outro. 

Como tudo na vida, a lei que rege é a do equilíbrio. Portanto, achar este contraponto entre as polaridades é o maior desafio dos pais. Frente a cada uma delas (segurar e soltar),os adultos, especialmente as mães, estão lidando com suas próprias angústias e sensações da infância. Seus medos e inseguranças são colocados à prova e olhá-los sob este novo ponto de vista pode ser revelador.

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