Parentalidade

Medos da madrugada

Tempo de leitura: 4 min

Uma escrita, muitas formas de consumi-la.

Medos da madrugada
Eu leio para você…

#ANTROPOSOFIA #PARENTALIDADE  #ALMA

Alguns períodos da infância podem ser marcados pelos medos, e muitos deles podem surgir à noite. Além de questões emocionais, questões metabólicas podem estar envolvidas neste processo. No primeiro setênio, a criança está aprendendo a tomar conta do seu corpo e o ritmo do dia influencia diretamente o ritmo da noite. É preciso avaliar se este metabólico está organizado durante o dia e não apenas olhar a agitação noturna como um comportamento isolado pois sempre há correlação.

Também observar a alimentação, excessos, carências ou alimentos inadequados e não apenas o tipo do alimento, mas a forma como ela se alimenta, como está sendo conduzido este momento da refeição, todas essas são observações que podem contribuir para uma análise de problemas do sono.

E quanto aos outros momentos do dia, como é seu período acordada? Ela está tendo momentos equilibrados de contração, em que ela se concentra para algo, contrapondo-se a momentos onde ela se expande através do brincar e do movimento, por exemplo. Às vezes, falta de atividade, bem como excesso, podem ser fatores estressantes para a criança. Podemos avaliar quais fatores podem estar contribuindo para que o metabolismo esteja agitado. Isso poderia ser influencia para que ela não se sinta segura durante a noite, fazendo com que ela não se entregue ao sono profundo e reparador.

Além disso, perceber como está o ambiente anímico ao qual ela está inserida, a quais emoções ela está sendo exposta? As situações de estresse da criança podem passar despercebidas pelo adulto pois muitas vezes são questões aparentemente simples, mas geram um enorme peso na idade infantil. A troca de escola, briga dos pais, a chegada de um irmão, a morte de algum parente próximo, a ansiedade por alguma situação nova, a troca do berço para a cama, o desfralde. Uma criança pode apresentar enorme ansiedade quando inicia por exemplo a queda dos dentes de leite, os medos de tudo que há atrás deste processo podem despontar nesta fase. Todas estas situações trazem enormes desafios para uma criança. Também situações emocionais dos pais são percebidas por ela. Muitas vezes passamos revezes e não contamos aos nossos filhos, uma troca de emprego, problemas conjugais, familiares, financeiros ou de saúde e nossas preocupações mais profundas são capazes de despertar angústia nos nossos filhos. Mesmo sendo coisas muito íntimas, nossas atitudes, nosso tom de voz, nossa presença ausente denunciam nosso campo emocional. Todo este universo quase imperceptível encontra, na noite, o momento para vir à tona.

Isso tem uma explicação bem interessante na medicina tradicional chinesa. De acordo com ela, existem os horários em que os nossos órgãos estão em sua máxima atividade no período da noite e, dependendo do grau de atividade, eles podem inclusive nos despertar. O pulmão, por exemplo, tem sua atividade máxima entre três e cinco da manhã, notamos como é exatamente neste horário em que a febre tem os picos e os quadros febris tendem a piorar, aumentando o número de casos no pronto atendimento nesta hora. E, no caso do estresse, que pode gerar raiva, o órgão relacionado é o fígado que tem seu pico entre uma e três da manhã. O medo também altera a energia do rim e está relacionado inclusive à enurese e ao terror noturno.

Importante observar se este é um fato isolado ou se acontece com frequência. Se for frequente, observe os horários, perceba se há correlações e além de aguardar podemos pontualmente rever cada um destes aspectos e ver se existe algo que possa ser feito. Nas questões emocionais, cabe aos pais observarem suas próprias emoções e buscarem ajuda, se for necessário. Uma conversa pode ajudar a nos organizarmos um pouco melhor emocionalmente. Através da auto educação os pais podem também por vezes notar certas expectativas em relação à criança que podem estar sendo fator de ansiedade para ela, então, antes de uma abordagem direta, cabe rever nossas próprias ideias sobre os fatos, por exemplo; será que estou indo rápido demais neste desfralde?

E, se realmente for algo muito individual da criança frente a uma situação difícil para ela, a atenção dos pais, o cuidado com alguma fase de transição, que muitas vezes significa segurar nossas próprias expectativas, podem trazer certo alívio. E nas situações onde não há o que fazer, como a chegada de um irmão, a mudança de escola, por exemplo, procure estar presente, mostrando a ela sua aprovação a tudo que vem dela; seu apoio e confiança de que ela será capaz de transpor aquela etapa ou situação traz grande força para criança. Essa linguagem é não verbal, mas se a intenção dos pais vem deste lugar de cuidado e amor, ela será percebida pela criança.

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