Salutogênese /sallus – sanidade – genesis– origem/ termo proposto por Aaron Antonovsky (1923-1994) sociólogo e acadêmico israelense-americano cujo trabalho dizia respeito à relação entre estresse, saúde e bem-estar. Os trabalhos dele contribuíram para o conceito de ser humano saudável.
Em 2020 a OMS já previa que depressão e ansiedade se tornariam doenças mais incapacitantes do mundo, e nesta previsão não se contava com o advento da COVID. Repare que a OMS previa como maior doença não aquela que ataca primeiramente os órgãos físicos, mas evidenciando a mente como pilar que sustenta a saúde. É sabido que o fator que mais contribui para estes estados é o estresse, um estado de tensão em que corpo, alma e espírito são convidados a superar-se para restabelecer a saúde e, se este estado de tensão não for superado, o sujeito adoece, aí, então, fisicamente também.
Antonovysky, fala da polaridade, como tudo na natureza: yin-yang, noite-dia, escuro-claro, amor-ódio; a polaridade está em tudo. Assim, se existem fatores que contribuem com a patogênese, o que poderia contribuir com a salutogênse? A medicina ocidental sempre olhou a saúde, simplesmente, como tratamento de doenças e seus sintomas. Mas aos poucos este conceito vem caindo por terra. As medicinas Antroposófica, Chinesa, Ayurvedica, Integrativa, Vibracional, dentre outras, trabalham com um conceito diferente: o de promover a saúde para, assim, evitar doença. Mas com um diferencial, diferente de tratar apenas corpo, estas visões fala sobre cuidar da saúde mental, emocional e espiritual e, como consequência, a obtenção a da saúde física.
Na década de 60, Antonovysky dedicou-se a observação das características dos sobreviventes dos campos de concentração, o que fazia com que determinadas pessoas conseguissem ter força de superação incomum para resistir as crueldades que bem sabemos. Com base nisso, ele define pilares que tentam explicar esta resiliência diante de tanta dor e sofrimento. Assim, ele traz o termo Senso de Coerência.
O Senso de Coerência é baseado em:
COMPREENSÃO, que confia que tudo é explicável, diferente do otimismo barato e da negação; a compreensão está em aceitar a situação como ela se apresenta. Neste ponto entra a espiritualidade, que traz a confiança em algo maior, que nos faz suportar as dores e sofrimentos que vivemos.
MANEJO, onde buscam-se recursos internos para lidar com as adversidades; o manejo faz buscar algo em si mesmo, é a confiança na própria habilidade de lidar com situações.
SIGNIFICADO, capacidade de extrair um aprendizado de tudo, por mais incompreensível que aquilo possa ser em um primeiro momento.
Nesta época, surge o termo RESILIÊNCIA, (silie– saltar, re– novamente); que na Física é a capacidade de um objeto voltar ao estado original sem danos ou ruptura após sofrer alguma força que tentou deformá-lo. Na verdade, o objeto ganha capacidade nova após o acúmulo de energia. É exatamente isso que a salutogênese propõe, um processo de transformação do indivíduo que pode ocorrer entre saúde e doença. Ainda que a doença vença seu curso, a salutogênese vai além da cura física. Promover saúde em um sentido completo, em que o corpo físico é apenas um dos envoltórios que compõem o ser humano.
Espiritualidade e saúde
O despertar espiritual é algo intrinsicamente relacionado ao processo de superação, as pessoas que encontram sentido na vida após passar por revezes, relatam que a espiritualidade foi o fator preponderante para que sobrevivessem à dor.
Não seria este o significado que salutogênese propõe? Aprender com a vida, com aquilo que ela nos apresenta, viver o hoje, buscando recursos que temos em mãos para nos sustentar ou buscar a reinvenção. Isso remete aos milhares de presos no campo de concentração; será que acordavam todos os dias esperando que as coisas melhorassem e torcendo por dias melhores ou viviam cada dia com aquilo que a lhes vida apresentava? Olhar para o futuro quando não temos perspectivas dele pode ser a uma porta rumo a depressão e falta de sentido na vida. Falando em sentido, o livro de Viktor Frankel, “Um homem em busca de sentido”, fala exatamente dessa busca por pequenos alívios, pequenas chamas de vida que conseguimos enxergar mesmo quando tudo parece levar ao fim. A obra conta a história do autor nos campos de concentração e seus sofrimentos físicos e emocionais avassaladores; fala dos pequenos alívios diários, da perda da dignidade humana. Mas conta sobre esta capacidade de superação, um elemento espiritual, que não passa necessariamente por algo religioso. Talvez este elemento o tenha permitido, após este revés, criar uma técnica terapêutica chamada Logoterapia. Podemos pensar que a dor aumentou sua dimensão humana.
A salutogênese fala sobre buscar um sentimento de coerência, entendendo que cada acontecimento em nossa vida ocorre dentro de um contexto, o qual segue uma ordem. Este sentimento nos tira do estado de impotência, no qual temos a sensação de sermos arrastados para dentro de um furacão. Quando fazemos sentido de tudo o que nos chega, ainda que sejam situações difíceis ou dolorosas, passamos a atuar de um lugar onde não somos vítimas de circunstâncias, e sim protagonistas de nossa vida, e isto nos permite contemplar e fazer um juízo mais coerente da vida. Buscar a gratidão no óbvio, no comum. Chegar no final de um dia preso, sem comida e sem forças e ao invés de dizer “Menos um dia”, conseguir sentir “Mais um dia que tive forças para superação”. Crer neste algo maior que nos move é um senso de dever, usando os recursos que se tem, seja ele a fé ou força. Todos temos algo valioso dentro de nós.
Salutogênese e educação
Podemos tomar esta base para educarmos as crianças. Segundo Antonovsky, a criança deveria aprender a formar uma concepção satisfatória do mundo através da educação. Os adultos deveriam ser capazes de passar para elas a ideia de que o mundo pode ser compreendido, que ele é valioso, que tem um significado e pode ser manejado. Isso se dá quando pensamos e fazemos sentido de nossas experiências. Para a criança é muito salutar a convivência com adultos que elaborem e tragam sentido dos fatos e um senso de coerência do universo. E ainda que tudo em volta se apresente difícil, estes adultos desenvolvem esperança, mantendo fé na vida e irradiando alegria de viver. Isso promove saúde nelas, gera um recurso eterno para que, no futuro, diante de fatos e problemas, inerentes ao ato de viver, elas encontrem dentro delas uma força.
A vida é um convite sem detalhes, apenas à espera de um “sim”
Ainda que nossos problemas não sejam tão sérios quanto o terror dos judeus presos vendo seu povo morrer e ser queimado em fornos (apenas torcendo para que amanhã não sua própria vez) por vezes nossa vida se apresenta tão ameaçadora e hostil quanto uma guerra. A proposta da salutogênese é encontrar sentido na vida para que continuemos a viver buscando significado para nossa existência. É a força para enfrentar desafios e, diariamente, dizer “sim” à vida; não querendo ser os próximos “no forno…isso significaria a morte mas, ao mesmo tempo, alívio para o sofrimento terreno. Assim, ainda que tenhamos pouco controle sobre a vida, escolher a patogênese ou salutogênese como forma de saúde é uma escolha que depende de nós.
Comente, queremos ouvir você.
Acreditamos que a troca é fundamental para evolução da nossa consciência.
O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *